sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

William Blake : poeta iluminado


William Blake (1757-1827), gráfico, autodidacta, místico laico e visionário, poeta e criador do, porventura, mais célebre poema da língua inglesa ("The Tyger"), foi redescoberto, após um certo apagamento literário, pelos "pré-rafaelitas" britânicos, mercê das geniais gravuras que produziu para ilustrar os seus livros. Só para o poema referido acima, Blake fêz três desenhos diferentes em que o tigre aparece com um "rosto" afável numa, indiferente noutra, agressivo e feroz na terceira versão. É um poema misterioso, este, até pelas inúmeras interrogações (14) que coloca, sem dar respostas. Traduzimos "The Tyger", sem rima, tentando ser mais fiéis ao Autor. Na dúvida sobre as 3 ilustrações de Blake, optámos por uma quarta, mais actual, obra de Júlio Pomar.

Tigre! Tigre! incandescente
Pelas florestas da noite
Que olhar ou mão vai domar
Tua feroz simetria?

Em que vales, remotos céus
Arde o fogo dos teus olhos?
Em que asas se projecta?
Quem circunscreve o teu fogo?

Em que ombro e de que forma
Forçará teu coração?
E se mesmo assim bater
Quem o trava? Pé ou mão?
 
Que martelo? Que correntes?
Em que fornalha o teu cérebro?
Que bigorna? Que prisão?
Afronta o terror mortal?

Lancem estrelas seus raios,
E do céu húmido lágrimas,
Vai sorrir ao ver a obra
Que criou: Cordeiro e a ti?

Tigre! Tigre! incandescente
Pelas florestas da noite
Que olhar ou mão vai domar
Tua feroz simetria?

7 comentários:

  1. Agradeço muito sensibilizado, até porque demorei cerca de 3 meses a dar a mim mesmo o "nihil obstat"...

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  2. Nos saldos da Assírio, por altura do Natal, encontrei um livrinho chamativo com poesia do Blake. Chamativos a capa, o grafismo e até o preço. Folheei, li uns versos mas o que li não me entusiasmou.Deixei-o lá.
    Ontem li este seu post e hoje, como é meu hábito, passei pela Fnac, onde voltei a encontrar o tal livro. Procurei este poema, li-o e voltei a deixá-lo no escaparate.
    Se algum dia decidir traduzir os restantes poemas, agradeço o favor de me avisar, porque é esse que eu quero comprar.


    PS. Na feira de livros usados do Mercado da Ribeira encontrei esta tarde a edição da Imprensa Nacional da obra do Abade de Jazende. A feira é uma decepção (livros a esmo, sem critério, preços nada de especial) mas este livro acabou por salvar a minha tarde :-)

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  3. Caro "c.a.": sobre os saldos no Mercado da Ribeira, estamos de acordo. Mas se estiver em Lisboa, há uma feira todos os sábados (de manhã)junto à Bertrand, no Chiado.Procurando,vale a pena. Já o Camilo vinha a Lisboa para comprar livros mais antigos...
    As traduções de Blake, portuguesas/brasileiras, não recomendo...O ideal é ler W. Blake no original ("Songs of Innocence and of Experience"-Introduction and commentary by Geoffrey Keynes-Oxford Paperbacks)com as gravuras que ele fez para o livro. Agora, a descodificação de Blake é muito intricada e complexa...Este poema, "The Tygger" joga em contraponto com "The Lamb". A fornalha e o ferreiro (ausente) seriam Deus.O Cordeiro (Lamb),Cristo. E por aí fora...

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  4. Essa edição da Assírio tem tradução de Jorge Vaz de Carvalho. Também não gostei nada. Já falámos disso, talvez no Prosimetron.
    Acho a sugestão do contador antropormórfico magnífica. Ainda ontem me tinha lembrado que um dia o APS poderia reunir as suas traduções num volume. A sua mesa de amigos, como fez Pedro da Silveira.

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  5. Há anos que não vou à Feira do Mercado da Ribeira. No princípio valia a pena, depois passou a ser um amontoado de caixotes virados.

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  6. Também eu há anos que não ia àquela feira na Ribeira, mas relativamente à última vez que lá estive parece-me que piorou significativamente.
    Estou em Lisboa, sim. No Chiado já apanhei algumas vezes a feira de sábado, mas sempre da parte da tarde. Um dia destes vou tentar não preguiçar para ir até lá da parte da manhã. Obrigado pela dica.
    Registo e agradeço, também, as notas sobre Blake. Ficarei de olho nesse livro da Oxford.
    E subscrevo, com entusiamo, a sugestão da 'mesa de amigos'.

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