quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Eterno Poema



Aqui há uns anos, foi publicada a tradução de um livro, pela "Cotovia", que provocou algum ruído e discussão, por vezes, quase polémicos. Tinha por título "A Angústia da Influência - uma teoria da poesia" e o seu autor, Harold Bloom (1930). Li-o, não sem alguma irritação e, no final, pus a lápis, na 1ª folha branca, a indicação: «Irracional e provocatório!».

Por vezes, não estamos (ainda) prontos para lermos determinado autor ou obra. Aconteceu-me isso com Graham Greene, no início. Hoje, sou um incondicional. Em relação ao livro de Bloom decidi-me a reavaliá-lo. E recomecei a lê-lo. Sem ter ainda uma opinião reactualizada, deixo aqui o início do primeiro capítulo intitulado: "Clinemen ou Encobrimento Poético":

"Shelley especulou que os poetas de todas as épocas contribuiram para um Grande Poema em progresso perpétuo. Borges observa que os poetas criam os seus precursores. Se os poetas mortos, como Eliot insistiu, constituíram os avanços específicos do conhecimento dos seus sucessores, tal conhecimento é ainda uma criação dos seus sucessores, construído para as necessidades dos vivos. Mas os poetas, ou pelo menos os mais fortes entre eles, não lêem necessessariamente como até os mais fortes críticos lêem. Os poetas não são nem leitores ideais nem leitores correntes, nem arnoldianos nem johnsonianos. Ao ler, tendem a não pensar que «isto está morto e isto está vivo na poesia de X». Os poetas, na altura em que se tornaram fortes, não lêem a poesia de X, visto que os poetas realmente fortes só se podem ler a si próprios. Para eles, ser judicioso é ser fraco, e comparar, exacta e justamente, é não ser eleito. ..."


P.S.: para "c. a.", com simpatia, e por causa de T. S. Eliot.

7 comentários:

  1. Depois do comentário a Agamben, vim espreitar. Gosto de Bloom, que realmente irritou muita gente de todos os quadrantes- basta pensar nas teses dele, pertinentes, sobre a autoria de alguns livros da Bíblia.

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  2. E eu também vim espreitar.
    Nunca li este livro de Bloom, mas aconteceu-me o mesmo com Graham Greene.
    Não me parece que seja verdade o que Bloom afirma sobre as leituras dos poetas. Temos até grandes poetas que são simultaneamente grandes críticos e ensaístas de poesia.
    E Bloom, ele próprio, cita alguns.

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  3. MR, também concordo consigo.Com a idade, no entanto, estou a reler o livro com mais calma...

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  4. Obrigado, APS.
    Estive agora a reler o T.S. Eliot (o excerto do ensaio, transcrito no seu post, e o poema do meu) tentando verificar o que é que tresli. Ainda não consegui chegar lá, mas prometo que não vou desistir :-)

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  5. Caro "c.a.": não tresleu nada! E acho que "Hysteria" se aplica completamente ao excerto que eu transcrevi.
    Quando muito,eu é que fiquei intranquilo com aquilo do Auden/Eliot, ontem/hoje.
    Saudações amigas.
    A.S.

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  6. Estou afundado em trabalho (prazos, prazos, prazos...) e só por isso ainda não fui averiguar se a voz será mesmo do Auden, mas logo que tenha um bocadinho vou fazê-lo. Ainda bem que não tresli, mas a ideia de ter causado intranquilidade deixa-me intranquilo...
    Saudações amigas.

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  7. Deixei uma nota sobre a voz que diz o «Hysteria» no sítio do costume. Antecipo já que não é do Auden...
    Abraço. Tenha uma óptima (ou já será ótima?) noite!

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