António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), Juíz e poeta cuja obra lírica foi sufocada pelo sucesso de "O Hissope", nasceu em Lisboa e faleceu no Rio de Janeiro quando se preparava para regressar a Portugal. No Brasil desempenhou funções de Desembargador da Relação do Rio e teve a seu cargo o julgamento da "Inconfidência Mineira" em que foram réus os seus amigos: Tomás António Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, para além de "Tiradentes", considerado o chefe da rebelião.
A obra lírica de Cruz e Silva é tão mal conhecida que correm 2 sonetos seus como sendo de Correia Garção, integrados nos "Clássicos Sá da Costa" cuja edição foi preparada e seleccionada (mal) por António José Saraiva.
A sua atribulada viagem de Portugal para o Brasil mereceu-lhe um interessante soneto que transcrevo abaixo.
Saimos pela barra com bom vento,
Mas ao terceiro dia de viagem
Se alçou de Noroeste tal aragem
Que as vagas arrojava ao firmamento:
Socegado este horrendo movimento,
Em que roncava o mar como um selvagem;
Vimos ao sexto dia de passagem
A vinosa Madeira a barlavento.
Na barba da cruel Serra Leoa
Oito dias sofremos calmaria,
E o crebro fusilar com que o Céu troa:
Passamos logo a linha ao quarto dia,
E surgimos com toda a gente boa
Aos sessenta do Rio na baía.
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