sábado, 6 de fevereiro de 2016

Mercearias finas 110


Na Arrábida (Portinho), em meados dos anos 60, no café-esplanada existente à beira-mar havia, apenas e sempre, um único tipo de bolo disponível: um industrialíssimo e sensaborão pastel de feijão, embrulhado em celofane (ou seria em papel manteiga?). Quanto a vinhos, brancos, se por lá almoçássemos, não havia escolha: apenas o canónico Casal Garcia, para peixe grelhado, da região marítima.
Pela mesma altura e década do século XX, uma leitaria-mercearia da rua Brancaamp, em Lisboa, costumava fazer montra, ciclicamente, com garrafas de Barca Velha, a seiscentos e tal escudos (para comparação, na mesma época, o Grão Vasco, tinto, custava cerca de 7$50, creio). Eu cobiçava o vinho de Fernando Nicolau de Almeida (1913-1998), mas não lhe chegava, nas minhas fracas posses...
Com os anos, porém, os vinhos brancos foram ganhando quota nas minhas preferências. E, recentemente, vim a conhecer dois de magnífica qualidade, quase em simultâneo. Num almoço de anos, foi-me presente um Vinha Paz (2013?), com 14º, lotado com Encruzado, Malvasia-Fina e Gouveio. Da família do meu tinto preferido do Dão, com o mesmo nome, enólogo (António Canto Moniz) e marca. Elegantíssimo, acompanhou um Pargo assado, à maneira.
Depois, veio este Senhor D'Adraga, branco, de 2014, com equilibrados 12,5º (preço: 4,39, numa média superfície), que é feito, numa propriedade já muito próxima do Cabo da Roca. Dir-se-ia que é o vinho mais extremo-ocidental da Europa... E se é bom! Bateu-se, dada a sua requintada personalidade, cavalheirescamente, com uma Garoupa, pescada à linha no Atlântico. Quanto a castas, o rótulo disse nada. E eu fiquei intrigado pelo seu sabor especioso e nobre. Inclinei-me, não totalmente convencido, para que tivesse Arinto que, ali por perto (Bucelas), atinge a suprema excelência e elegância, em bons anos de colheita. Mas não descansei enquanto não soube de que castas era feito. Procurei, procurei e, para minha grande surpresa, dei de caras com duas castas minhotas, raríssimas no Sul: Alvarinho e Loureiro - quem diria!...
O resultado é excelente. O que contraria, de algum modo, os puristas ortodoxos do Terroir, como eu.

3 comentários:

  1. Um vinho da Adraga, de que o meu pai gostava e que era barato, vendia-se há muitos anos numa loja de vinhos, em Sintra, frente ao Palácio e de esquina para a rua da Periquita.
    Este será o seu sucessor?
    Bom dia!

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  2. No outro dia vi este, talve na mesma media superfície, e estive para o comprar. :)

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    1. Pois é bem possível que seja o sucessor do preferido pelo seu Pai. Esta Quinta de Sta. Maria parece que esteve vários anos sem produzir.
      Este branco, para o meu gosto, é excelente. Vale o seu preço.
      Boa tarde!

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