segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A par e passo 160


Mas como fazer para pensar - quero eu dizer: para repensar, para aprofundar aquilo que parece merecer ser aprofundado - se nós temos a linguagem por essencialmente provisória, como é provisória uma nota de banco ou um cheque, a que nós chamamos "valor", que exige o esquecimento da sua mesma natureza, e que é apenas a de um bocado de papel habitualmente sujo? Este papel que já passou por tantas mãos... Mas as palavras que também já passaram por tantas bocas, por tantas frases, por tantos usos e abusos, que as preocupações mais sérias se impõem para evitar uma excessiva confusão nos nossos espíritos, entre aquilo que pensamos e procuramos pensar e o que o dicionário, os autores e, de resto, todo o género humano, desde a origem da língua, querem que nós pensemos...

Paul Valéry, in Variété V (pgs. 133/4).

4 comentários:

  1. Interessante. Gosto de pensar sobre as palavras. Bom dia!

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    1. Pode ser um exercício fascinante, que compensa.
      Boa tarde!

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  2. Não obstante não conhecer a obra e o pensamento de P. Valéry, e de apenas conhecer os excertos que se vão publicando por aqui, não deixo de considerar o texto e o tema interessante, e se o autor fosse vivo, hoje, o que não pensaria, a banalização, prostituição, das palavras enquanto signos, imagens, é muitíssimo maior, no entanto penso que, a comparação, embora bonita, é exagerada, bem como o conceito de linguagem provisória eu pessoalmente tenho um conceito mais paradigmático da linguagem, numa linha mais positivista.
    Saudações amigas.

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    1. Embora tenha começado a ler Valéry um pouco tarde, tenho-o mantido como um dos meus autores de referência, pelo seu pensamento original e por me ser estimulante.
      Creio que, quando P. V. se refere ao carácter provisório da liguagem, pretende expressar o dinamismo próprio dos idiomas. Bem como a capacidade de alargamento de significado das palavras que, com o tempo, ganham novos horizontes imprtevistos, por vezes.
      Cordiais cumprimentos.

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