segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A par e passo 161


Eu observei, por diversas vezes, que um incidente não menos insignificante causava - ou parecia causar - um desvio muito diferente, um afastamento da natureza e um outro resultado. Por exemplo, uma aproximação brusca de ideias, uma analogia que me assaltava, como um sinal de alerta no interior duma floresta que nos faz levantar a orelha, e nos orienta virtualmente todos os músculos que se sentem convocados para algum ponto no espaço e para a profundidade da folhagem. Mas desta vez em lugar de um poema, era uma análise desta sensação intelectual súbita que se apossava de mim. Nada de versos que se destacassem, mais ou menos facilmente, do interior desta fase; mas alguma proposição que se destinava a incorporar nos meus hábitos de pensar, qualquer fórmula que devia, a partir daí, servir de instrumento às minhas pesquisas posteriores...

Paul Valéry, in Variété V (pg. 135).

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