sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Dispersos e desarrumados


Às vezes, visito 3 ou 4 blogues de que não sou um fiel seguidor comprometido e declarado. Estes dispersos, que se seguem, são fruto de reacções pessoais, quer de leituras que vou fazendo pelos dias, quer desses sobrevoos que vou fazendo pela blogosfera. Para usar um título feliz e plagiando Milos Forman (1932), e lembrando o genial desempenho de Jack Nicholson, eu diria que os escrevi enquanto "voando sobre um ninho de cucos"...

1. Não sendo a última morada dos monarcas ingleses, nem o panteão nacional britânico, o Poets' Corner, na Abadia de Westminster, consagra a imortalidade de alguns, raros, artistas. Lá está sepultado, por exemplo, Geoffrey Chaucer. O protocolo inglês de decisão, para a jazida eterna, é lento e muito rigoroso. Demora alguns anos, pelo menos, de forma a que o facto não seja afectado pelo calor da emoção após a morte, ou pelos interesses (muitas vezes, familiares, como em Portugal já tem acontecido...) corporativos. O poeta Ted Hughes, que faleceu em 1998, só foi trasladado em 2011 para o Poets' Corner.  Os ingleses estudam agora a hipótese de, também, levar para a Abadia de Westminster o poeta Philip Larkin que morreu em 1985. Como se vê, os britânicos têm o seu timing próprio e a sua avaliação metódica. E um de cada vez...
Ao contrário dos católicos, que são mais voluntaristas, pressurosos, empreendedores... Veja-se, por exemplo, a rapidez com que foi canonizado o papa João Paulo II. Ou as 3 mais recentes aquisições do nosso panteão nacional, sito na Basílica de Santa Engrácia.

2. Um dos blogues a que vou, embora irregularmente, é dirigido unipessoalmente por uma figura pública conhecida, de origens transmontanas, que já teve funções diplomáticas. Muito interessante, o blogue aborda assuntos muito diversos, com preponderância de temas políticos. Os textos são bem escritos, sugestivos no estilo, bem humorados e, quase sempre, muito actuais. O blogue tem imensos comentadores e visitas, justificadamente, porque também se destaca, na sua qualidade, do cinzentismo ligeiro ou infantilismo militante da grande maioria dos blogues portugueses.
Um senão, porém. O comentariado, tirando poucas e honrosas excepções, é do estilo de "abaixo de cão", roçando por vezes o insulto soez, entre os comentadores de que, também, uma boa parte escreve desleixadamente, parecendo usar os pés, em vez das mãos... E, o que foi assunto sério tratado, no poste, transforma-se, muitas vezes, numa posterior arena sangrenta de vaidades. Porque me parece, na verdade, que não se comenta o essencial, mas se pretende ganhar protagonismo perante o pagode que vem ler. O comentariado acaba por ser um vomitório desgostante, frequentemente, e enjoativo.

3. A previsibilidade banal, a corrente dominante de celebrar determinadas datas, como se de uma obrigação religiosa se tratasse, torna grande parte dos blogues numa vulgar exibição de rodriguinhos estereotipados, na linha de uma uniformização insípida que, mais do que irritar, me perturba. Alguns dirão que é o fruto da globalização, esta clonagem massificada. Talvez, mas não só. Demonstram também o medo de fazer e pensar de forma diferente e autónoma. Que é uma coisa que faz sempre falta...

4. O tédio é uma varanda nenhuma, que dá para um deserto sem dunas, nem areia.


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