segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Em reparação, e louvor


A fidelidade não tem preço, ou aquilo por que a entendemos. Raríssima entre os seres humanos, encontra um terreno de eleição entre os bichos e o homem. Cães sobretudo, que os gatos são mais interesseiros, normalmente, e egoístas.
Em outro reino, não o animal, eu tenho uma relação singular com uma sardinheira (gerânio) de flores brancas, habitante de um velho vaso que, com o tempo e a água, se vai esfarelando por fora. A planta, na varanda a leste, acompanha-me, tutelar, há mais de 30 anos, e parece observar-me, ou proteger-me, lá do alto e do lado esquerdo, quando me sento para ler, escrever ou, simplesmente, estar.
São singelas as flores, na sua brancura sucessiva (a não ser quando começam a murchar acinzentando o seu tom, até cairem), mas ao longo deste tempo todo, de Inverno ou de Verão, não houve um dia, um único dia, em que não me banhassem com a sua alvura e presença, vindas dos seus ramos envelhecidos.
A isto chamaria eu, com propriedade, uma grata, imensa fidelidade. Em troca de algumas gotas de água que, sempre com estima, lhe vou dando, de vez em quando.

6 comentários:

  1. Há 30 anos? É obra! E ternura...Essa planta está a zelar por si...
    Adorei o post! Gosto muito das histórias que esta sua varanda a leste encerra.
    Boa noite! :-)

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    1. Para ser mais exacto, Sandra, a sardinheira - que todos os dias do ano tem flores - está comigo há mais de 34 anos: foi um dos 3 vasos que vieram de uma outra casa.
      Obrigado (e recompensado) pelo seu gostar.
      Uma boa noite holandesa!

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  2. Que bonito texto!
    Não fazia ideia que as sardinheiras poderiam durar tantos anos!!
    Boa noite:)

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    1. Muito obrigado, Isabel.
      Esta deve ter muita força..:-)
      E sempre florindo.
      Boa noite!

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  3. Uma bela resistente essa sua sardinheira! Eu tive uma assim branca durante muitos anos, mas os invernos aqui são mais duros e, de vez em quando, há umas baixas...
    É um caso de fidelidade mútua!!!
    Tenha um bom dia!

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    1. Não será sacrilégio dizer que tenho alguma ternura, sobretudo, pelo seu florescimento contínuo e já longevo. Outras sardinheiras, que por cá andam, não são assim...
      Uma boa tarde!

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