sábado, 1 de agosto de 2015

A par e passo 143


VIRTUDE, meus Senhores, esta palavra Virtude morreu, ou, pelo menos, está a morrer. Virtude raramente a pronunciamos. Aos espíritos de hoje, ela já quase não ocorre, como expressão espontânea de pensamento de uma realidade actual. Ela já não existe como um daqueles elementos imediatos do vocabulário que habita em nós, e cuja facilidade e frequência manifestam verdadeiras exigências quer da nossa sensibilidade quer do nosso intelecto. Na verdade, há muito poucas oportunidades para a utilização desta palavra na nossa actividade interior, e é absolutamente normal que possamos viver e reflectir, agir e meditar ao longo de todo um ano, sem que sintamos necessidade de a articular ou de pensar nela, uma vez que seja.

Paul Valéry, in Variété IV (pgs. 163/4).

2 comentários:

  1. Se as pessoas não têm valores (ou se estes como eram considerados só o são para poucos) como se pode falar de virtudes?
    Mas no tempo em que Valéry escreveu o que cita não me aprece que fosse assim.

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