quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Um conto de Thomas Mann


...Entre os meridionais, a loquacidade é um ingrediente da alegria de viver e têm por ela maior estima do que os do norte. Há reputações que nascem da língua pátria, unicamente requerem dizeres e fonética. Assim, é um prazer falar e outro ouvir, mas ouvir atentamente, para poder formar juízo e medir a personalidade de cada indivíduo pela sua conversa. Uma conversa negligente inspira desprezo; pelo contrário, a elegância e cor na linguagem, inspiram respeito e admiração. Vem daí, o esmero cuidado com que as pessoas de condição humilde adornam as suas frases. ...
Thomas Mann (1875-1955), in Mário e o Hipnotizador (Editorial Hélio, Lisboa, 1948).

O curto excerto, que reproduzo acima, em tradução (que me parece cuidada) de Maria da Paz Marques Ferreira, do conto Mario und der Zauber (1929), de Thomas Mann, não é, de forma alguma, amostra suficiente da riqueza enorme desta novela do grande escritor alemão. É uma narrativa de intervenção, política, mas onde não são descuradas nunca as preocupações de qualidade literária. Pode até ser lida como uma fábula sobre o fascismo emergente (estavamos no limiar dos anos 30), mas seria reduzir o conto à sua expressão mais simples. É sobretudo um texto sobre a multiplicidade das reacções da condição humana, sob circunstâncias exteriores subtis de domínio cénico e mental, e a resposta individual, às vezes, única e fatal. Mais ainda, talvez o que mais importa, na leitura do conto Mário e o Hipnotizador, de Mann, não é tanto o que o Escritor conta, mas o que deixa supor e faz reflectir.

Após a leitura, congratulei-me, intimamente. Tenho visto muitos blogues que, semanalmente (ou mesmo diariamente), recomendam a compra de mais uma novidade saida para as livrarias (eventualmente, estarão disfarçadamente ligados a editoras, ou serão pagos para esta função apologética e venal...); outros bloguistas inebriam-se, facilmente, com frioleiras que terão a vida breve de 2 ou 3 meses - e que serão rapidamente esquecidas e relegadas para as feiras de livros do Metropolitano, a 5 euros, cada. A habitual falta de sentido crítico, ingénua e portuguesa...
Retrogradamente, não costumo andar febril e sedento a comprar as últimas edições para, depois, em 20 obras novas, encontrar 1 que mereça ser lida - já não tenho tempo, nem paciência para isso... Voltar atrás, aos clássicos é, quase sempre, um investimento muito mais seguro e proveitoso.

3 comentários:

  1. Li Mário e o Hipnotizador há muitos anos, mas não me lembro. Talvez o venha a reler em breve.
    Bom dia!

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  2. Obrigado, MR.
    É um livro de contos francamente bom, donde ressalta a qualidade literária e de pensamento.
    Bom dia!

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