terça-feira, 4 de agosto de 2015

Retratos (15)


Havia um licor de noz, que a Inha fazia, quase tão aromático como as compotas e a marmelada, que perfumavam o longo corredor, do alto dos armários da sua térrea e frágil casa, quase no centro da cidade. Era no tempo sem fronteiras, quando o campo convivia ainda, harmoniosamente, com o tecido urbano.
Depois, era o brilho azul afectuoso dos seus olhos, os seus cabelos brancos rematados por um puxo discreto, no alto da sua pequenina cabeça, já tremelicante.
Como me separei disso tudo, não o conseguirei dizer ou explicar. O tempo (ou a distância?), além de escultor, é também um anestesiante assassino de afectos.
Ao sair de sua casa, para chegar ao portão de saída, já velho e chiante ao abrir, eu lembro-me que, pela álea frondosa, me acompanhavam, ladeantes, nogueiras e carvalhos, pinheiros e castanheiros, macieiras e limoeiros. Mas vinha, também, sempre comigo, o perfume aromático e caricioso do corredor. Até chegar a casa.

8 comentários:

  1. Fiquei com vontade de provar o licor de noz da Inha. Sabores antigos e cheios de ternura.
    Um retrato lindíssimo, APS! Gostei muito deste seu texto. Consigo imaginar o corredor, os aromas, as árvores, a Inha...
    Bom dia! :-)

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    1. ...E a culpa foi da minha Amiga, que me fez lembrar os licores, a partir do de Singeverga..:-)
      Obrigado também, pelas suas palavras de agora.
      Uma boa tarde!

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  2. :-)
    Amanhã, o meu Amigo passe lá no meu cantinho. Depois, verá. Lembrei-me logo de si. O mundo é um ovo...
    Achei uma coincidência giríssima...:-)

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    1. Lá irei (como vou, sempre que há poste novo)..:-)

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  3. Tb gostei. Há cheiros que nos acompanham pela vida fora.
    Bom dia!

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