Viver, note-se, apesar da opinião bastante difundida, apesar da impressão que nos fornecem, sobre a vida, os jornais, os teatros e os romances, viver é uma prática essencialmente monótona. É um pouco ambiguamente que se diz de um espectáculo ou de um livro que ele é vivo quando ele se apresenta bastante desordenado, nos surpreende com imprevistos, com espontaneidade, com aspectos fulgurantes, com efeitos que nos emocionam. Mas isto não são senão características superficiais, flutuações da sensibilidade, porque o suporte destas aparências, a substância destes incidentes é um sistema de períodos ou de ciclos de transformações, que se cumprem fora da nossa consciência e geralmente na penumbra da nossa sensibilidade.
Paul Valéry, in Variété III (pg. 211).
Hoje até concordo com Valéry. Sim, «viver é uma prática essencialmente monótona», no que tem de ser uma sucessão de hábitos que repetimos todos os dias. :)
ResponderEliminarE tb na parte que se refere aos livros e espetáculos. Imagino eu que será verdade no que se refere aos criadores.
Eu acho que são, realmente, palavras de sabedoria. Quem nunca experimentou o tédio ou peso da repetição quotidiana? Talvez só as almas simples, ou aqueles que correm, freneticamente, para lado nenhum. E, a esses, está-lhes prometido o "reino dos céus"...
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