sábado, 16 de novembro de 2013

Um poema traduzido, de Katha Pollitt (1949)


Oferendas para um túmulo

Com ela enterrámos uma tempestade de neve,
um grito que aconteceu na rua,
um travo amargo no fundo de um bule
de chá, lascado, circa 1938.

Com cuidado embrulhámos junto dela
o cheiro de livros de uma velha casa à beira-mar,
um conjunto de cartas que não foram escritas -
talvez que elas se calem, agora, para sempre -

mas também meia dúzia de guerras, prontas a usar,
e alguma raiva ainda em exercício, muito bem
arrumada por entre a sombra de uma raposa
e os solavancos de um comboio nocturno. Aspergimos

por sobre ela uma noite cheia de estrelas e de rádios
e deixámo-la sozinha, fizemos tudo
o que podiamos por ela, face ao outro mundo,
se o mundo que se segue for parecido com este.


Katha Pollit, in The Times Literary Supplement (nº 5771).

2 comentários:

  1. Mais uma poetisa minha desconhecida. Gostei.

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  2. Também fiquei encantado com o poema.
    Aliás, só consigo traduzir aquilo de que gosto muito.
    Boa tarde!

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