Decididamente, este Apontamento exige uma declaração inicial
de interesse. Assim como este Governo, em particular, não sabe o que é serviço
público, e por isso não “no estima” – como Camões dizia da Cultura -, anda por
aí “mui gentinha” a viver à custa dele, arrasando-o, quanto pode nas suas
conversas, e minando-o, silenciosa e quotidianamente, num caminho perigoso que
põe em causa os princípios fundamentais da democracia. Neste, como noutros
aspectos, os extremos tocam-se, ou seja, o “lumpen-proletariat” e a
“lumpen-burguesia” encontram-se na perfeição.
O estrato social do meio, a chamada média-burguesia, constitui,
pela sua defesa de valores e princípios, uma “camada” a abater. Pela
dificuldade de subjugar o seu livre pensamento, assente na solidariedade e
fraternidade, enfim na paz, assistimos, em todo o espaço europeu e, sobretudo
no Sul, ao seu estrangulamento financeiro com o objectivo de o arregimentar, ou
seja, “reunindo-o no bando” daqueles que carecem de uma noção mínima de
respeito para com a democracia.
No meio deste “turbilhão” a que assistimos, existem alguns
pretensos “servidores do Estado” que se põem à jeito, servindo os interesses governamentais
da declarada ineficácia do serviço público com uma prestação autoritária,
alimentada com pequenos truques de conivência e até pequeno “tráfego de
influência” perante os “lumpen” inferiores e superiores. Enfim, fizeram a sua
opção de sobrevivência num mundo de descalabro em que vivemos.
Com efeito, aqueles que, ainda, nos idos de 1973
frequentavam os Centros de Saúde, e até os Hospitais, guardarão, certamente,
uma memória inesquecível do país. A diferença na evolução dos chamados
“cuidados de saúde” é abissal, sem dúvida. Infelizmente, o que se está a recuperar
é uma “cortina de fumo” anti-democrática, feita de “funcionários e siguranças [sic]”, que impede e dificulta o acesso
ao tratamento.
Como não acredito na ingenuidade da presente política para o
SNS, julgo que o estrangulamento se voltou para a parte
administrativa do seu acesso, favorecendo esquemas, conivências e influências abjectas.
À semelhança de outro direito, a saber, a livre circulação dentro das
cidades, em que a segurança se transferiu para os “arrumadores”, também passamos a ter
“siguranças” para o acesso à saúde.
É pena que alguns já se esqueceram desse “longínquo” passado
e que não se levantem em peso contra essa nova cortina de fumo que se vai
instalando paulatinamente.
Sabem lá o que é serviço público. Só sabem quando vão para as clínicas privadas e depois têm de ser transferidos para os hospitais públicos para serem tratados de qualquer coisa mais grave. E depois ainda temos de ouvir aqueles mimos do Sr. Pingo Doce a dizer que foi operado à borla num hospital público, quando podia pagar. Se isso o incomodou tanto, porque não pegou nesse valor e fazer uma doação ao hospital?
ResponderEliminarE também se lembram do serviço público quando os bancos estão à beira da falência ou já mesmo falidos.
ResponderEliminarPara MR:
ResponderEliminarpara mim, o senhor Pingo Doce pertence ao passado. Nunca mais entrei nas suas lojas. Quanto à sua fundação, caridosa, parece que dá muito sustento a alguns.