quarta-feira, 1 de maio de 2013

Para final do dia, e em jeito de inventário


Muito honestamente, sem pretender branquear o passado, se eu comparar o dia de hoje com o mesmo dia, aqui há 40 anos (1/5/73), sob o consulado do Presidente-marinheiro e de Marcelo Caetano, tenho de dizer que, tirando a falta de liberdade de expressão e manifestação, e a existência da polícia política (DGS), havia mais respeito pelos direitos constitucionais (mais restritivos, embora) dos cidadãos. E havia, sobretudo, mais esperança em dias melhores.
Hoje, com o cacique rural de Boliqueime, em Belém, e o Coelho de Massamá, em S. Bento, tendo à volta a mediocridade quase geral de amanuenses burocratas, o futuro não oferece nem garantias nos direitos constitucionais, nem esperança. Não trocava de Tempo, mas estamos, francamente, pior, pela experiência dos tempos por que passei. E tenho que, humilde e melancolicamente, o confessar. Há que dar uma volta a isto, seja como for. 

11 comentários:

  1. Não posso concordar.
    Havia mais respeito?! Claro, por uma Constituição que de democrática não tinha nada.

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  2. Antecipei que não concordaria, MR..:-)
    E longe de mim ("Não trocava de Tempo") dizer que era melhor, ou achar que a Constituição era democrática ("...mais restritivos, embora"). Mas havia Emprego, não baixavam salários, não havia fome (talvez porque havia mais solidariedade), embora houvesse miséria, e havia "mais esperança em dias melhores" que hoje quase não existe. E a hipocrisia era igual à dos dias de hoje. E se os que não concordavam ou faziam política contra o Regime eram punidos, hoje, todos somos castigados e diminuídos em direitos e garantias, mesmo que inscritos na Constituição. Predomina um Poder arbitrário e iníquo que, no fundo, não tem nada de democrático, sujeito a decisões subjectivas e de interesses obscuros. Não me parece estarmos muito melhor embora (e repito) eu "não trocava de Tempo".

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  3. O mais assustador agora é mesmo a falta de esperança, sobretudo para quem tem filhos pequenos e quer que eles sejam pessoas saudáveis, física e emocionalmente.

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  4. É verdade, Margarida. Parece estarmos num beco sem saída...

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  5. Não baixavam salários porque alguns já eram muito baixos. É bom lembrar que os professores, por exemplo, não ganhavam nas férias.
    E fome também havia. E gente que só punha o dente em carne nos dias de grande festa, ou nem isso. E muitos pedintes na rua, que estão a voltar.
    Concordo é que que estamos num beco, mas há-de haver saída. Tem de haver.

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  6. Os tempos são melhores em tudo, da mortalidade infantil à literacia, passando pelos direitos já mencionados, mas estamos realmente numa encruzilhada e a Grécia e Chipre são " avisos à navegação " que fazem temer o pior...

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  7. A minha mãe também me diz isso muitas vezes: que havia mais trabalho, mais respeito, menos corrupção, e mais solidariedade ( e, tal como o A.S., também prefere viver neste Tempo).
    Actualmente, a Europa mais parece um castelo de cartas (a situação, por aqui, também já teve melhores dias). Este tempo amedronta-me. Os anos 30 do século passado passam-me logo pela cabeça...

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  8. Vou tentar ser concreto, geral e sucinto, nos meus re-comentários.
    Antes de mais, vejo com crescente preocupação a baixa qualidade dos políticos, sobretudo, europeus. A sua vulgaridade, a sua ausência de sentido de solidariedade, a falta de imaginação, o seguidismo acarneirado e acéfalo, a ausência de iniciativas. É todo um horizonte cerrado, que nos cerca. Faz falta um Roosevelt que, perante a quase total passividade mundial, em contra-ciclo, criou um estratégia pioneira que fez dos anos 30 americanos uma época de ressurgimento notável.
    Quanto a salários baixos. Na multinacional, onde eu trabalhava em 1973, o salário médio de cerca de 50% dos colaboradores era de Esc. 1.200$00; um jornal custava Esc. 1$00, um selo para carta nacional: 1$00. Hoje, um jornal custa cerca de 1,00 euro (200$00, antigos). O salário mínimo nacional não chega aos 500 euros, para não falar nos recibos verdes, nem nos subterfúgios que algumas empresas torpes usam para pagar abaixo da lei. Há desregulação e desrespeito pelos direitos humanos e a fiscalização nem actua... É um fartar, vilanagem!
    Mas repito: não trocava de Tempo!

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  9. Eu ando também assustada: ainda outro dia resmungava com o euro. Acredito que há coisas que tenham melhorado, mas o custo de vida está assustador. Por um lado os políticos são de uma frieza e de um economicismo, aparentemente sem valores nem nobreza de carácter, que me deixa literalmente aterrorizada. Se eu fosse um ronbot e vivesse de ar - talvez não me importasse. Por outro lado o euro. Eu sei que voltar atrás é talvez um tiro nos pés mas ainda outro dia tiveram o descaramento num café de me pedir 3,5 euros por um coelho de chocolate para a minha filha. Alguém, no tempo do escudo tinha a lata de me pedir 700 escudos por um coelho de chocolate??? Eu acho que anda tudo um pouco estranho...

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  10. Infelizmente, Margarida, eu também faço, muitas vezes, a reconversão euro/escudos para avaliar o que pago. É quase sempre um exercício arrasador...

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  11. Concordo consigo, APS, a qualidade dos políticos deixa muito a desejar actualmente. Já não há políticos da craveira de um Roosevelt.
    Se me permite, aproveito para comentar a Margarida. No seguimento do exemplo que dás, nestas bandas, pedem, actualmente, 2.25 euros por um café. É de loucos!!

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