sábado, 4 de maio de 2013

As enormidades e a desproporção


Quando me falam do Ensino, em Portugal, eu fico logo de pé atrás.
Ultimamente, pelo Chiado, tenho visto romarias de jovens subindo e descendo a rua do Alecrim, acompanhados de professores de bonés com pala, dando a volta ao Largo, seguindo para o Camões. Normalmente, junto à Brasileira e à volta da estátua de Fernando Pessoa, de Lagoa Henriques, há paragem e perlenga, fotografias também. Já sei ao que vêm estes jovens estudantes excursionistas: "estudar", in loco, os percursos queirozianos e pessoanos - é a moda, que se há-de fazer... Coitados dos estudantes de Bragança ou de Angra do Heroísmo, que não têm Lisboa à mão!... Como será, com eles?
Mas, hoje, tive uma notícia fidedigna e surpreendente, que me deixou estarrecido. A uma jovem estudante do 11º ano, foi pedido pela professora, ao seu grupo de trabalho (que integra mais 4 ou 5 colegas), que fizesse um trabalho escrito sobre "Os Maias", de Eça de Queiroz, com, pelo menos, 200 páginas. Será que a professora terá ensandecido?!
No Seminário do meu último ano da Faculdade, e com vista ao trabalho de tese sobre a obra de John Updike (1932-2009), que eu ia fazer, pediram-me, previamente, uma sinopse de cerca de 50 páginas sobre a obra que me propunha executar. Volto a perguntar, estarrecido: será que essa professora, do 11º ano, ensandeceu?

14 comentários:

  1. Oh! 200 páginas? Na faculdade as recensões criticas a obras têm um limite máximo de 10 páginas e alguns professores exigem que se usem apenas 3... dizem que é para estimular a capacidade de sintese e sistematização de um texto nos moldes em que estes são publicados na imprensa geral ou noutras publicações periódicas da especialidade.
    Pergunto-me. O que é que se espera que seja escrito sobre uma obra em 200 páginas?

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  2. Entre 3 a 10 páginas parece-me realista e razoável, agora, as 200, é um disparate...
    Mas tentaria distribuí-las assim: 50/60 páginas para bibliografia (que, do Eça, é extensíssima), mais 50/60 com iconografia do Escritor, bem como imagens das capas de "Os Maias" (que não seria difícil...); para citações/transcrições do romance: 50 páginas. Ficariam assim entre 30 a 50 páginas para texto alusivo, que já me parece mais do que suficiente...

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  3. Os casos que conta não abonam muito a favor dos professores...
    Mas é como tudo, há bons e menos bons profissionais!
    Bom resto de domingo!













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  4. Para a Isabel:
    julgo que o problema é mais fundo. É o sistema de ensino que não sabe distinguir o essencial do acessório, continuando a promover a "cópia" em detrimento de um pensamento próprio do aluno. Por vezes, os professores só cumprem as "regras" e, nos últimos anos, o espaço de liberdade encurtou, e muito. A bem da estátistica e dos resultados pretensamento "objectivos".

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    1. É verdade tudo o que diz, e os professores não têm poder para nada.
      Hoje acima de tudo contam as estatísticas. Não importa como, mas os alunos TÊM de passar de ano.
      Há muita pressão sobre os professores.
      Mas um trabalho de 200 páginas é um exagero que a professora de certeza podia ter evitado.
      Enfim, cada um sabe do seu trabalho...
      Boa noite e boa semana!






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  5. Não quis generalizar, Isabel, tão só denunciar a excepção absurda e irrealista de uma professora do secundário, que deve primar pela excentricidade...
    Tive 2 óptimos Professores primários, alguns muito bons professores no secundário, apesar de exigentes. Já na Universidade, a qualidade dos mestres foi já mais rara, muito embora tenha 5 ou 6 boas recordações de excelentes professores.
    Não sendo especialista da matéria (Ensino), atrevo-me a afirmar que muitos dos "programas" estão desajustados para os tempos que correm...

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    1. Eu entendi, e concordo com o que disse!
      Fico particularmente contente que guarde boas recordações dos seus professores primários. Também dou aulas ao 1ºciclo (continuo a gostar mais de dizer Escola Primária) e gostava que os meus alunos ficassem com boas recordações deste tempo.
      Boa noite!

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  6. Se todos os prof. mandassem fazer um trabalhinho de 200 páginas... Não lembra ao demónio!

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  7. E a aluna (16 anos), como é responsável e séria, anda raladíssima...

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  8. Para MR:
    além disso, não estou a ver que a professora leia e corrija, com a devida atenção, 5 x 5 trabalhos (de grupos de 5) = 25 x 200 páginas. Porque o trabalho de detectar "o copy-paste" [= copianço dos políticos alemães] não é pêra doce.

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  9. Acho muito estranho esse pedido de 200 páginas, especialmente se tivermos em conta o que é são hoje os limites das dissertações de mestrado etc. Eu se fosse ao aluno esmerava-me para ir refundindo ao longo da vida :)

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  10. Era uma ideia pragmática, muito embora, na juventude (neste caso, 16 anos), o sentido crítico esteja ainda em evolução.
    Pus a hipótese dessa excelsa Professora estar, ela própria, a fazer uma tese sobre "Os Maias" e quisesse ajuda camuflada de outros investigadores...

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  11. Claro que a prof.ª, que é louca, não vai corrigir os trabalhos. Deve dar as notas pelo tamanho.
    Eu tive um prof. na Fac. - antes do 25 de Abril! - que corrigia os testes pelo tamanho das respostas...

    E os pais da aluna?!

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  12. São urbanos, conscientes e responsáveis. Mas não apelam à insubordinação.

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