sábado, 7 de julho de 2012

Cadernos militares


Este livro, de que se mostra a capa, saído em Dezembro de 2011, sob o patrocínio da Universidade Católica, tem o sub-título de "Cadernos de Guerra do Coronel Alberto Salgado", muito justamente. Com um estudo introdutório de Arlindo Manuel Caldeira, a obra é composta por um relato do final do séc. XIX e um diário de operações e ocupação militares, já no decurso da I Grande Guerra, no sul de Angola, escrito pelo seu participante, inicialmente como tenente e, depois, na patente de coronel. O coronel Alberto Salgado (1870-1935) não produziu uma obra asséptica e fria (certamente, nunca lhe passou pela cabeça vir a publicar estes seus escritos), nem sequer um relatório seco e burocrático de operações militares. Das suas palavras, sobretudo na segunda parte (séc. XX), surge uma figura onde as emoções ganham presença, opinião e sentimentos humanos. Sobre este tema colonial, penso que não haverá muitos documentos com esta intimidade pessoal.
Mas esta obra também nos leva a outras reflexões. Na introdução, Arlindo Manuel Caldeira escreveu: "Quando, em 1885, se definiam, na Conferência de Berlim, as regras de ocupação efectiva dos territórios africanos, a presença portuguesa no Sul de Angola era, em larguíssimas extensões, uma ficção política para uso nas chancelarias estrangeiras. ..." Parece ser uma fatalidade portuguesa: ocuparmos apenas o litoral. Ou então, como agora, por preguiça, laxismo, falta de visão e estratégia política abandonarmos ao ermamento e à desertificação todo o interior de Portugal. Retirando-lhe, metodicamente, as infra-estruturas que poderiam ajudar a fixar a população, já de si pobre e carenciada. Não é destino, é simplesmente falta de vontade política.

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