sábado, 28 de julho de 2012

Um soneto ao Visconde


Dos mais antigos primeiros-ministros de Portugal, lembro-me de muito poucos: Castelo-Melhor, Pombal... Porque a fama é breve e a memória, curta. Mas, às vezes, por uma mera circunstância acidental, ficamos a saber um nome, até ali desconhecido. Até há pouco, eu não sabia nada de Tomás Xavier de Lima Teles da Silva (1727-1800), não fora um soneto satírico de um anónimo poeta do séc. XVIII, que li hoje. Aquele senhor foi 14º Visconde de Vila Nova da Cerveira, exerceu o cargo de primeiro-ministro de 1 de Abril de 1786 a 15 de Dezembro de 1788, e sofria de estrabismo. Parece que não gozava de grande popularidade e um poeta desconhecido retratou-o, em palavras cruas, assim:

Os olhos vesgos, a cabeça torta,
Mil trejeitos fazendo a cada instante,
Por entre as partes cavaleiro andante
Dando a todos respostas d'Inês d'Horta;

Sempre em ar de parlenga, môsca morta
Que não vae para traz nem para diante,
Sabio nos ossos, mas enfim pedante,
Tão rombo como faca que não corta;

Com as contas na mão, missa e mais missa,
Joelho em terra a cada relicário,
Mas caíndo a pedaços de preguiça;

Este é um dos do nosso calendário,
Que os despachos do Reino nos enguiça,
Este o torto Visconde Secretário.


2 comentários:

  1. Para dizerem que tinha «ar de parlenga» não devia ser muito dotado.

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  2. Enfatuado, devia ser, pelo ar e pelo soneto...ainda os há, assim, hoje.

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