Da primeira metade (1420?) do séc. XV até 1744, a cidade de Barcelos estava obrigada a enviar alguns homens para varrerem, em datas festivas, "a Praça Maior, o Padrão (do Salado) e os açougues" da cidade de Guimarães. O rei D. João V, a pedido dos barcelenses, concretamente dos habitantes das freguesias de Cunha e Ruilhe, revogou esta disposição régia de D. João I, libertando-os da servidão que eles consideravam humilhante.
Não há, conhecido, o suporte documental de origem que fundamente esta obrigação. Mas há vários autores (Padre Torquato de Azevedo, António da Costa Miranda, Fr. Rafael de Jesus) que referem esta disposição régia.
A causa desta obrigação de Barcelos foi objecto de acesa polémica entre J. Mancelos Sampaio (A servidão de Barcelos a Guimarães, 1943) e A. L. de Carvalho (Guimarães em Ceuta, 1954). Ao que parece, em 1419, os árabes tentaram reconquistar Ceuta, na posse dos portugueses desde 1415. Um troço das muralhas exteriores da cidade africana era defendido por tropas de naturais de Barcelos e, ao lado, os muros contíguos eram apoiados por soldados de origem vimaranense. Acontece que os mouros lançaram um ataque fortíssimo sobre o perímetro defendido pelos barcelenses e estes recuaram, e começaram a fugir. Ao ver isto, o grupo de Guimarães dividiu-se em dois e, um deles, foi cobrir a posição desguarnecida das muralhas de Ceuta, conseguindo deter a invasão mourisca.
A partir de então, por provisão de D. João I, a cidade de Barcelos terá sido castigada e obrigada a mandar alguns homens varrer alguns locais de Guimarães, em datas festivas e com traje caricato: "com barrete vermelho na cabeça, banda vermelha ao ombro, espada à cinta, um pé calçado e outro descalço" - segundo refere o Padre Torquato de Azevedo. Até que D. João V, magnânimo, revogou este castigo, em Fevereiro de 1744.
Faz-me pensar que estamos ainda a pagar pela neutralidade na WWII.
ResponderEliminarBem observado, caríssimo..:-))
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