Nestes nossos tempos de "apagada e vil tristeza" (Camões dixit) da nova usurpação estrangeira (agora por via económica) é importante recordar a Restauração de que, amanhã, passa mais um aniversário e que, provavelmente, será pela última vez feriado nacional. Até porque, actualmente, há muitos Miguéis de Vasconcelos, sobretudo entre os economistas portugueses...
Em Guimarães, a dominação filipina e castelhana nunca foi bem aceite. Já em 1580, o povo vimaranense tomou partido por D. António, Prior do Crato, que a arráia-miúda conhecia, por ele ter frequentado a Universidade da Costa. Muito embora o alcaide da Vila, Fernão Coutinho, fosse afecto aos castelhanos. Venceu, entretanto, a força, a cobiça e o dinheiro.
Por essa altura e desde há muito que já havia a comemoração tradicional da vitória de Aljubarrota, celebrada todos os anos a 14 de Agosto, com uma procissão de N. Sra. da Oliveira, uma missa de acção de graças e um sermão sobre essa motivo patriótico. A missa era dita no exterior da Colegiada, junto ao Padrão do Salado, onde eram exibidos o loudel (colete alongado e acolchoado que se vestia por baixo da armadura) ou pelote e a lança pessoal que D. João I oferecera, em preito de gratidão, à imagem da Virgem da Oliveira. Ora, em 1638, presidia aos destinos da Colegiada o D. Prior Bernardo de Ataíde, o pregador sagrado escolhido foi o franciscano Fr. Luís da Natividade que era o Superior do Convento de S. Francisco, em Guimarães. Este franciscano era um patriota de alma e coração, e aproveitou a oportunidade para apelar aos sentimentos nacionais e à revolta. Olhando para o loudel, ia dizendo: "... Vejo-vos, pelote, velho e roto: vejo-vos atravessado com a vossa própria lança (...) Só me resta a consolação de ver-vos diante desta Virgem da Oliveira, que se uma vez vos livrou da morte, vos pode ainda ressuscitar a nova vida." E disse mais ainda: "...O Reino que nessa roupa o invicto Senhor D. João nosso rei dedicou e sujeitou à Virgem da Oliveira, quando o vedes em tal estado, nele vedes também qual esteja o Reino."
Menos de 2 anos e 4 meses, depois, foi a Restauração.
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