sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Bibliofilia 54 : "O Feliz Independente..." do Padre Theodoro de Almeida


No tempo em que eu frequentava, com alguma assiduidade, os leilões de livros, lembro-me que HMJ teve alguma dificuldade, e demorou tempo, até conseguir comprar "Pyrene" (1935), de Fidelino de Figueiredo (1888-1967), até porque não se encontrava o volume nos alfarrabistas, ou era muito caro. A obra trata das relações culturais, sobretudo literárias, dos dois países peninsulares - Portugal e Espanha. Pois, há dias, com surpresa e alguma nostalgia, fui encontrar o livro, em razoável estado de conservação, no meu alfarrabista de referência. E na prateleira de baixo, última e térrea, de uma das estantes. O que queria dizer que se poderia comprar por 1,00 ou 2,00 euros. Significava isto que o livro não tinha já procura. Como diria o bom velho Sá: "...Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,..."
Muitos clássicos e diversas obras que foram e são importantes, graças à desastrosa, bárbara e cega política de Ensino, nos últimos anos em Portugal, estão hoje nos sotãos e caves do esquecimento cultural. Só um ou outro académico bisonho e curioso irá ter com eles, para os ler ou estudar. Prova mais que suficiente, é um inquérito que se fez recentemente a alunos e professores que, para escândalo de alguns (poucos: "la inmensa minoría"), mostrava à saciedade o grau de incultura e ignorância alarve de "mestres" e discentes...
Recebi hoje o Boletim Bibliográfico 52 (Novembro de 2011) da Livraria Luís Burnay e, ao folheá-lo, dei com o Padre Theodoro de Almeida (1722-1804?) e o seu "O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna ou Arte de viver contente em quaesquer trabalhos da Vida" (no catálogo era o lote 18), na sua edição primeira, de 1779, em três volumes, ao preço fixo de 100,00 euros. A obra, de intuitos apologéticos e morais, tem como cenário a Polónia.  Este livro foi um best-seller, na época, mas hoje quem é que terá paciência para ler as suas quase 1.000 páginas?, embora de escrita elegante e escorreita. Creio que só um académico devotado. Não tenho a primeira, mas tenho a 2ª edição, de 1786. É uma impressão cuidada, bonita, com gravuras interessantes de que se dá uma amostra, em imagem, do frontispício do volume I, para que conste. 

3 comentários:

  1. Na verdade muito bonita,
    A literatura está cheia de best-sellers que hoje ninguém conhece. E até de Prémios Nobel.
    Os best-sellers de hoje terão o mesmo fim.

    ResponderEliminar
  2. Estava a ver que não conseguia escrever. :(

    ResponderEliminar
  3. Obrigado pela sua persistência, que prova a consistência da sua Amizade - que me é muito grata e a que procuro corresponder, por vontade natural e com alegria fraterna. Infelizmente, não consigo melhorar os acessos aos comentários dos amigos, para minha mágoa. Porque um comentário é, quase sempre, estimulante e dá forças para prosseguir, com tenacidade e firmeza - porque a fadiga também me ataca, por vezes...
    Mudando de registo: esta valorização da ignorância, pior que a apologia do "bom selvagem", é uma situação que me entristece. Assim como o desprezo dos bárbaros pelas Humanidades. Penso, às vezes, que estamos noutra idade "das trevas" irremediável e final. Teremos que reaprender a uivar? em vez de nos entendermos por palavras, sentimentos e pensar? Desculpe-me o testamento e o pessimismo, minha boa Amiga. Se não comunicarmos, entretanto, desejo-lhe um óptimo fim-de-semana, MR!

    ResponderEliminar