No tempo em que eu frequentava, com alguma assiduidade, os leilões de livros, lembro-me que HMJ teve alguma dificuldade, e demorou tempo, até conseguir comprar "Pyrene" (1935), de Fidelino de Figueiredo (1888-1967), até porque não se encontrava o volume nos alfarrabistas, ou era muito caro. A obra trata das relações culturais, sobretudo literárias, dos dois países peninsulares - Portugal e Espanha. Pois, há dias, com surpresa e alguma nostalgia, fui encontrar o livro, em razoável estado de conservação, no meu alfarrabista de referência. E na prateleira de baixo, última e térrea, de uma das estantes. O que queria dizer que se poderia comprar por 1,00 ou 2,00 euros. Significava isto que o livro não tinha já procura. Como diria o bom velho Sá: "...Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,..."
Muitos clássicos e diversas obras que foram e são importantes, graças à desastrosa, bárbara e cega política de Ensino, nos últimos anos em Portugal, estão hoje nos sotãos e caves do esquecimento cultural. Só um ou outro académico bisonho e curioso irá ter com eles, para os ler ou estudar. Prova mais que suficiente, é um inquérito que se fez recentemente a alunos e professores que, para escândalo de alguns (poucos: "la inmensa minoría"), mostrava à saciedade o grau de incultura e ignorância alarve de "mestres" e discentes...
Recebi hoje o Boletim Bibliográfico 52 (Novembro de 2011) da Livraria Luís Burnay e, ao folheá-lo, dei com o Padre Theodoro de Almeida (1722-1804?) e o seu "O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna ou Arte de viver contente em quaesquer trabalhos da Vida" (no catálogo era o lote 18), na sua edição primeira, de 1779, em três volumes, ao preço fixo de 100,00 euros. A obra, de intuitos apologéticos e morais, tem como cenário a Polónia. Este livro foi um best-seller, na época, mas hoje quem é que terá paciência para ler as suas quase 1.000 páginas?, embora de escrita elegante e escorreita. Creio que só um académico devotado. Não tenho a primeira, mas tenho a 2ª edição, de 1786. É uma impressão cuidada, bonita, com gravuras interessantes de que se dá uma amostra, em imagem, do frontispício do volume I, para que conste.
Na verdade muito bonita,
ResponderEliminarA literatura está cheia de best-sellers que hoje ninguém conhece. E até de Prémios Nobel.
Os best-sellers de hoje terão o mesmo fim.
Estava a ver que não conseguia escrever. :(
ResponderEliminarObrigado pela sua persistência, que prova a consistência da sua Amizade - que me é muito grata e a que procuro corresponder, por vontade natural e com alegria fraterna. Infelizmente, não consigo melhorar os acessos aos comentários dos amigos, para minha mágoa. Porque um comentário é, quase sempre, estimulante e dá forças para prosseguir, com tenacidade e firmeza - porque a fadiga também me ataca, por vezes...
ResponderEliminarMudando de registo: esta valorização da ignorância, pior que a apologia do "bom selvagem", é uma situação que me entristece. Assim como o desprezo dos bárbaros pelas Humanidades. Penso, às vezes, que estamos noutra idade "das trevas" irremediável e final. Teremos que reaprender a uivar? em vez de nos entendermos por palavras, sentimentos e pensar? Desculpe-me o testamento e o pessimismo, minha boa Amiga. Se não comunicarmos, entretanto, desejo-lhe um óptimo fim-de-semana, MR!