segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Porto, em circunstância


Metamorfose

Para a minha alma eu queria uma torre como esta,
assim alta,
assim de névoa acompanhando o rio.

Estou tão longe da margem que as pessoas passam
e as luzes se reflectem na água.

E, contudo, a margem não pertence ao rio
nem o rio está em mim como a torre estaria
se eu a soubesse ter...
                                  uma luz desce o rio
                                  gente passa e não sabe
que eu quero uma torre tão alta que as aves não passem
                                                       as nuvens não passem
                                                       tão alta tão alta
que a solidão possa tornar-se humana.

Jorge de Sena, in Coroa da Terra (1949).

2 comentários:

  1. Belíssimo poema.
    E gostei da escolha do quadro de António Cruz para ilustrar.

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  2. Muito obrigado, MR. Desejo-lhe um bom dia!

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