"A minha vida - como artista, pelo menos - pode ser cartografada exactamente como uma febre: com altos e baixos, em ciclos muito definidos.
Comecei a escrever quando tinha oito anos - fora do habitual, longe da influência de qualquer exemplo. Nunca tinha conhecido ninguém que escrevesse; na realidade, conhecia muito pouca gente que soubesse ler. Mas, de facto, as quatro únicas coisas que me interessavam, eram: ler livros, ir ao cinema, dançar e fazer desenhos. E, então, um dia comecei a escrever, ignorando que me estava a acorrentar a um Senhor nobre, mas impiedoso. (...) Escrevi histórias de aventuras, de mistério e policiais, comédias, narrativas que me tinham sido contadas por antigos escravos e veteranos da Guerra Civil. Diverti-me muito - a princípio. Mas deixei de achar graça quando descobri a diferença entre escrever bem e escrever mal, e nessa altura fiz uma descoberta ainda mais alarmante: a diferença entre uma escrita muito boa e a verdadeira arte; é subtil, mas cruel. E depois disso, foi como se uma chicotada se abatesse sobre mim. ..."
Truman Capote (1924-1984), no prefácio a "Music for Chameleons" (Penguin Books, 1979).
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