sábado, 26 de novembro de 2011

Cidade Capital de Cultura 2012 / Fastos vimaranenses VIII : Festas Nicolinas



Das festas mais importantes de Guimarães, destacam-se pela singularidade: as Gualterianas e as Nicolinas. Ambas se acolhem à protecção de santos: S. Gualter, patrono de Guimarães, e S. Nicolau, dos estudantes. As Festas Gualterianas têm lugar em finais de Julho e prolongam-se até aos primeiros dias de Agosto, tendo um objectivo económico e turístico. As Festas Nicolinas começam sempre a 29 de Novembro e terminam a 6 de Dezembro e têm sobretudo um carácter lúdico, pois são feitas por e para os estudantes. O figurino na sua versão actual data dos finais do séc. XIX, mas os festejos estudantis já aconteciam, em Guimarães, no séc. XVII, embora numa versão mais incipiente, e muito dependente, ainda, da Igreja. Havia aliás uma capela de S. Nicolau que foi demolida nos anos 30 do século passado.
Por esta altura de Novembro, na cidade, já se ouve o rufar dos bombos e caixas num ruído cavo que se propaga pelas ruas, de manhã, no intervalo das aulas depois do almoço, e à tardinha. É o afinar dos toques, antes do início das festas. Os nós dos dedos sangram, por vezes, mas o rufar continua; e também acontece que o bombo fica "inutilizado", tal foi a força das baquetas que a pele rebentou. Mas tudo isto é antes do princípio, porque a verdadeira festa começa a 29 de Novembro, à noite, quando o Pinheiro (oferecido, tradicionalmente, pelo chefe da comissão das Festas Nicolinas) entra na cidade, puxado por carros de bois e trazido dos arrabaldes. O cortejo, acompanhado de estudantes tocando caixas e bombos, em ritmo compassado, terminará no Campo da Feira, onde a árvore (enorme, habitualmente) será enterrada, sem raízes, e aí ficará, até ao final das Nicolinas. A madeira será depois vendida para custear despesas. No entretanto haverá as "Posses" (ofertas de particulares aos estudantes, muitas vezes, em viandas), o "Magusto" (com castanhas assadas e líquidos à discrição...), a  noite da "Roubalheira" (em que os nicolinos mudam os pertences exteriores dos particulares para sítios insólitos. Vasos, roupa a secar, tudo que esteja à vista ou à mão é levado para locais improváveis e distantes.). Antes do cortejo final das Maçãzinhas, a 6 de Dezembro, haverá ainda a leitura do "Pregão" (pequena epopeia herói-cómica, habitualmente, em decassílabos marotos e de crítica a Guimarães e ao Mundo), declamação que é feita junto à Câmara Municipal, junto à casa que foi da Sra. Aninhas (chamada a Madrinha dos estudantes), e noutros locais da tradição Nicolina. A 6 de Dezembro, o ponto mais alto, com o cortejo de estudantes mascarados que oferecem da rua, às jovens raparigas nas janelas e varandas das casas, maçãzinhas na ponta de uma lança. E recebem delas, em retorno, pequenas ofertas que podem ir de colheres de pau até pequenas garrafinhas de Vinho do Porto. Quando as pequenas maçãs acabam, o estudante oferece a lança (de metal ou latão), adornada com fitas de diversas cores, à eleita do seu coração. Ou, então e manhosamente, só a dá, depois, no baile nocturno que encerra as festividades, para tirar maior "proveito" da oferenda...
Vale a pena ir ver as Festas Nicolinas, a Guimarães.

Nota: nas imagens, Nicolinos, prontos para começar o cortejo das "Maçãzinhas. Reproduz-se ainda uma parte do "Pregão" de 1985.

5 comentários:

  1. Muito intrigantes, estas festas. Porque é que o santo dos estudantes é festejado em Guimarães desde a Idade Média e não nas cidades onde existem universidades? Que particularidade da comunidade estudantil vimaranense poderá justificar esta tradição? Depois, porquê S. Nicolau? Sei que é um santo muito popular a oriente, mas em Portugal não conheço outras festas em sua honra. Estou enganada?

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  2. De concreto, c. a.,há muito pouco. Encerrada a Universidade da Costa (Sta. Marinha, convento hoje Pousada), no séc. XV, no século seguinte criou-se uma escola na Colegiada, onde se ensinavam meninos coreiros e estudantes externos. E na Igreja havia uma imagem de S. Nicolau que viria a transitar para uma Igreja modesta do mesmo Santo (1631) construida à custa dos estudantes que foi demolida no séc. XX. Em 1691 é constituída uma Irmandade de S. Nicolau que se sustenta de Danças, Comédias e Cantares feitos pelos estudantes - e pagas por particulares. Havia já o Magusto que se fazia de ofertas, a 4 de Dezembro (data da morte do Santo). O Pregão data de meados do séc. XIX, apenas, e as Maçãzinhas são do final do mesmo século. Diz-se que havia festas semelhantes, e antigas (medievais), em Oxford, Paris, Salamanca e no Porto (freguesia de S. Nicolau) e que teriam sidos os romeiros de Santiago (de Compostela)a influenciar os costumes - não creio. E é tudo, c.a., que posso acrescentar.

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  3. E é muito! Não fazia ideia que em Guimarães existiu uma Universidade. Não fazia mesmo!...

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  4. «No período do Renascimento o Mosteiro de Santa Marinha da Costa teve o privilégio de iniciar uma das mais importantes experiências de renovação do ensino superior em Portugal. Por volta de 1537, o rei D. João III, decide transferir o colégio do Mosteiro de Penhalonga para o Convento da Costa, para nele poder estudar o Infante D. Duarte, seu filho. Também foram lá criados o Infante D. Luís e seu filho D. António. Em relação ao plano de estudos existiam na Costa os estudos preparatórios, constituídos pelas humanidades e pelas artes, e os de ensino superior relacionados com Teologia. Por alvará do rei D. João III a 6 de Julho de 1541 concedeu-se autorização para que aos estudantes deste colégio pudessem ser atribuídos os graus de licenciados, bacharel e doutor em artes, ficando equiparados aos da Universidade de Coimbra.
    Após a Morte de D. Duarte, em Agosto de 1543, o Colégio da Costa deixou de ser uma escola principesca deixando por isso de beneficiar dos favores régios. Em 1553 D. João III, incorpora o Colégio de S. Jerónimo na Universidade de Coimbra.»

    texto integral aqui:

    http://www.csarmento.uminho.pt/amap_4137.asp

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  5. Muito boa informação!
    Só agora dei por ter errado o século da Universidade: pus XV, quando deveria ter posto XVI. O D. António que o texto da Casa Sarmento refere, filho do Infante D. Luís, creio que é o Prior do Crato. Também por lá andou, julgo, o que veio a ser Cardeal-Rei D. Henrique.
    Obrigado pelo informe,c. a..

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