quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A democratização da glória


O nosso tempo está carregado de pressa e sofreguidão. Não se compadece com as minudências do rigor nem com o olhar desapaixonado da distância. A reflexão ponderada, para muitos, é pura perda de tempo e uma inutilidade dispensável.
E a própria e prestigiada colecção La Pléiade, da Gallimard, começa a parecer-se, cada vez mais, com os panteões e os nóbeis, que entraram num processo acelerado de banalização democrática.
O escritor português António Lobo Antunes (1942) vai integrar, também, La Pléiade. Não sei se fico contente... Mas, pelo menos, Fernando Pessoa não ficará sozinho, nas estantes da Gallimard, a falar com os seus botões ou com os seus heterónimos, em português. E Pessoa merece tudo. Mesmo as más companhias.

19 comentários:

  1. Podia ser pior. Pode ser que isto seja o anúncio de uma maior atenção à literatura portuguesa, por parte dos editores, e em breve tenham mais um para lhes fazer companhia e jogar a bisca.

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    1. É verdade que sim. Mas, aqui a meu lado, alguém me diz, com cepticismo: "Foi o "lobby", que trabalhou muito bem..."

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    2. Verdade, já devemos ao lobby um Nobel.

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  2. Lá por casa, o rapaz também acha que o Pessoa merece tudo. Nós ficamos sempre a namorar esta colecção nas prateleiras da Gibert Joseph e mesmo em 2ª mão, não chega à bolsa. Tenho a certeza absoluta que o Pessoa conversa com o Proust. Acho que o diálogo dele com o Antunes deve ser mais difícil. Até por aqui há lobbies a trabalhar, bolas!
    Bom dia

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    1. Creio que Lobo Antunes é muito consensual na Alemanha, na França e até nos países nórdicos. Mérito dele, decerto, e dos tradutores que teve.
      Por cá, é mais fracturante. Li os 2 ou 3 primeiros livros dele, e chegou-me. Mas dou de barato que, em fama, é o nosso mais conhecido ficcionista.
      Bom dia.

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  3. Houve tempos em que eu pensava estar isolado neste meu ódio de estimação. Curiosamente, nem tanto pelo que escreve e como escreve, que conheço pouco - lá terá os seus méritos -, mas pela personalidade, pelo que diz, como o diz, como se arroga isto e aquilo, como se mostra "superior", como bebe o café, como coloca a tampa da caneta, como ... enfim, essas coisas próprias dos ódios de estimação.
    Ou melhor, nem é bem ódio, é mais aversão. Estive para escrever repugnância. Parece pior?
    Aaaa...... que alívio...

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    1. O homem tem excesso de ufania, para o meu gosto. É uma marca da casta onde se acha inserido. Não acho nada de especial o estilo dele, mas em terra de cegos, mãezinhas e piercings, tudo pode acontecer...
      Há pouco tempo, tive ocasião de ler uma desmontagem militar (de circulação restrita), fundamentada, que destruía por completo as farroncas epopeicas com que ele se "heroicizava" nas cartas à noiva e posterior mulher, quando esteve na guerra, como médico. Não é confiável, por isso...

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  4. Eu sou do contra, porque gosto dos livros do Lobo Antunes e até aquela arrogância, acho que não é estilo, é mesmo de alguém que apenas não está para fazer fretes.

    Boa tarde de sexta-feira:))

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    1. É um direito que lhe assiste. De liberdade e de gosto.
      Ao assumirmos uma pose (neste caso de alguma arrogância irónica), muitas vezes, ficamos escravos dela, no futuro...
      Retribuo, com estima.

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  5. Gostei dos dois primeiros livros e depois li mais três, que me foram oferecidos, um deles "à força", mas depois da boa surpresa inicial, fui perdendo a empatia com o personagem à medida que assistia às suas intervenções públicas e escritas pelos jornais. Esta edição na célebre Pléiade já se falava à longos anos, segundo me recordo, um pouco como o Nobel e ainda ontem o vi na tv, depois de este ano o ter escutado numa emissão da France-Culture, por mero acaso, permanecendo igual a si próprio, sempre com o auxílio acrítico do nosso jornalismo cultural.
    Muito boa tarde!

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    1. Dos vivos, portugueses, tirando Mário de Carvalho e Mia Couto, obra com alguma consistência e originalidade, não haverá muito por onde escolher... É o que temos.
      Um bom fim de tarde.

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  6. A propósito ou talvez não, será o meu comentário.
    Assisti neste fim de tarde a uma conversa
    conduzida por Luís Caetano da Antena2 com Mário de Carvalho,
    na Biblioteca Municipal da Amadora. Muito agradável na minha
    opinião. Descobri que as primeiras leituras de M.de Carvalho
    foram os livros de Mark Twain , Tom Sawyer e Huckleberry Finn.
    Veio à minha memória o que eu gostava de ler estas aventuras,
    talvez ainda muito novinha. A Cabana do Pai Tomás, e outros de
    que já não me lembro. Gostei desta conversa de fim de tarde.
    Mário de Carvalho, um afecto antigo.

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    1. O que posso dizer é que, dos portugueses vivos, é aquele que mais gosto de ler, actualmente.
      Bom fim-de-semana.

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  7. Acho-o um grande malcriado. E as pessoas acham-lhe graça. Quanto aos livros, deve ser um grande escritor, mas eu não gosto. Só as crónicas.
    Às vezes fico estupefacta como é que se vendem tantos livros de ALA, que são difíceis de ler e entender. Será que as pessoas o leem?! Duvido!
    Bom dia!

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  8. Quando digo que duvido que as pessoas o leiam, não me refiro toda a gente, mas à proporção entre livros vendidos e lidos. Tenho amigos e conhecidos que o leem e gostam; outros são como Mister Vertigo, só gostaram dos livros iniciais.

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    1. Há quem ache graça aos meninos rabinos e despropositados..:-(
      Como romancista ALA nunca me entusiasmou, embora tenha lido, dele, uma ou outra crónica interessante, também como a MR.
      E, às vezes, a aceitação ou entusiasmo, pela obra dele, não relevam do sentido crítico, mas do contágio publicitário.
      Bom fim de tarde.

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