"...O mundo condena os mentirosos que não fazem senão mentir, até sobre as coisas ínfimas, e vai premiando os poetas, que só mentem sobre as coisas grandíssimas."
Umberto Eco, in Baudolino (pg. 46).
Depois de Pessoa, é muito difícil dizer, ou mentir, melhor. Ruy Belo tentou, Gamoneda também, talvez com mais autêntica sinceridade, mas não foi longe. Sem o dizer, fazendo da mentira seu voto de castidade poética, Herberto Helder experimentou uma segunda via, com alguns resultados menores, embora de poesia maior. Os melhores poetas são, em última instância, grandes fantasistas, oscilando entre o malabarista talentoso da metáfora, e o mágico truque para consumo doméstico. Buscam um equilíbrio subjectivo por compensação externa. Por extremo, sendo bem sucedidos, conseguem criar uma nova linguagem. Ou uma outra realidade virtual, mas possível.
Se eu disser: o Polo Norte há-de vir a ser o sexto continente - talvez esteja a admitir uma verdade provável. Mesmo que esteja a mentir, no presente. Com o aquecimento global, esta constatação é, apenas, uma mentira menor. E sem grande qualidade poética.
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