Os eléctricos amarelos pareciam cantar subindo Alfama.
Duas prisões havia. Uma, para os ladrões.
Que acenavam com as mãos por entre as grades.
Gritando que queriam ser fotografados.
«Mas aqui," disse-me o cobrador hesitante, como a fazer troça,
«é aqui que metem os políticos». Eu olhei a fachada, a fachada
contínua, e lá em cima, na janela, um homem
com um binóculo contemplava o mar.
A roupa branca secava pelo céu. As paredes ardiam.
As moscas pareciam decifrar letras minúsculas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma senhora de Lisboa:
«Era mesmo assim, ou terei sonhado?»
Tomas Tranströmer, in Klanger och Spär (1966).
para H. N., por razões óbvias.
Não conhecia este poema e gostei muito.
ResponderEliminarEm 1966 o Aljube já estava desativado.
Bom dia!
Provavelmente, TM viajou no 28. Passou pela António Maria Cardoso e pelo Aljube, para chegar a Alfama, O poema, do livro que foi publicado em 1966, escrito antes, necessariamente, confere com a sua achega, portanto. Também gostei deste poema.
EliminarSeria interessante, um dia, fazer uma antologia de poetas estrangeiros que dedicaram poemas a terras portuguesas, O arquivo do Arpose regista 3, pelo menos: um do Auden, sobre Macau, outro de Manoel Barros, e este de Tranströmer...