Se Karl Marx (1818-1883) voltasse à Terra, com toda a certeza que aproveitaria para fazer um aggiornamento numa das suas frases mais conhecidas, para: O futebol é o ópio do povo.
Quando vi o respeitável sr. Ribeiro e Castro, prestando declarações à TV, vestido com a camisola vermelha do seu clube, pensei que a sua segunda variação estava errada...
Pois, seja! Eu até admito, na minha piedade cristã, esta apropriação colectiva indevida, por parte da multidão ensandecida, do trabalho de 11 (12, que o treinador também conta, como na Última Ceia) homens, quando bem sucedidos. Em que a alma vai subindo em glória, dos pés até à cabeça. E que os carneirinhos até se esqueçam das suas desgraças e de que também têm que procurar o seu pasto no relvado. (A meio da escrita, comecei a ter a incómoda sensação de estar a gastar demasiada cera, com ruim assunto... Será?)
Que nada! Veja, por exemplo, o seu colega Carlos Drummond de Andrade, a quem não caíram os parentes na lama por escrever "Futebol":
Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma. A bola é a mesma: forma sacra para craques e pernas de pau. Mesma a volúpia de chutar na delirante copa-mundo ou no árido espaço do morro. São voos de estátuas súbitas, desenhos feéricos, bailados de pés e troncos entrançados. Instantes lúdicos: flutua o jogador, gravado no ar — afinal, o corpo triunfante da triste lei da gravidade.
É verdade, o Carlos era um anjo que passou velozmente pairando. Mas também eram outros tempos! Comedidos, honestos, de amor à arte... Depois, eu sou um cínico elistista e empedernido que oscilo, quanto a desporto, entre Churchill, o voleibol e o ciclismo - que deus me perdoe!...
O futebol é um jogo que qualquer pessoa pode jogar e por isso é extremamente popular. Veja-se de onde vieram os maiores jogadores do mundo. O mesmo é válido para o atletismo e, em menor escala, para o ciclismo, porque aqui precisam de uma bicicleta.. Agora o que a tv faz do futebol é que é incrível. Principalmente a RTP. Sou do Benfica (mas não sou doente), mas nunca me poria na figura do Ribeiro e Castro, que vi. Até me iam caindo os queixos. Eu gosto de atletismo e de hóquei em patins. Ficava colada à televisão a ver a equipa do Livramento, Ramalhete, Júlio Rendeiro, Adrião, Vaz Guedes... e já não me lembro do nome dos outros. E de irmos para a rua ver o final o final da Volta a Portugal em Bicicleta. :)
Todas essas memórias lembradas pela MR, também eu as vivi (ciclismo, hóquei...), com autenticidade, alegria e comedida paixão. O desporto era mais limpo, os ordenados modestos, para os praticantes. Hoje sabemos como os propósitos estão inquinados, como se incendeiam os ânimos e as paixões. Como, por esse mundo fora, a trindade santíssima (futebol, autarquias, construção civil) é responsável por tanta corrupção e desatino. Qualquer bicho careta questiona o chorudo ordenado de um gestor, mas quase nunca se escandaliza pelas quantias astronómicas que se pagam a jogadores e treinadores de futebol. Há muita hipocrisia nestas matérias e muito terror sacro naqueles que se calam e aplaudem com a maioria, nunca dizendo que não gostam "deste" futebol. Só não entram é na guerrilha urbana que as claques selvagens, tantas vezes provocam. Eu, passo.
Variações.
ResponderEliminarO futebol é uma religião.
O futebol é do povo.
O futebol é ódio.
A televisão é o ópio do povo.
Quando vi o respeitável sr. Ribeiro e Castro, prestando declarações à TV, vestido com a camisola vermelha do seu clube, pensei que a sua segunda variação estava errada...
EliminarRepare que eu falava "do futebol", não de certa e determinada agremiação, que encaixa melhor nas duas últimas linhas.
EliminarPois, seja!
EliminarEu até admito, na minha piedade cristã, esta apropriação colectiva indevida, por parte da multidão ensandecida, do trabalho de 11 (12, que o treinador também conta, como na Última Ceia) homens, quando bem sucedidos. Em que a alma vai subindo em glória, dos pés até à cabeça. E que os carneirinhos até se esqueçam das suas desgraças e de que também têm que procurar o seu pasto no relvado.
(A meio da escrita, comecei a ter a incómoda sensação de estar a gastar demasiada cera, com ruim assunto... Será?)
Que nada! Veja, por exemplo, o seu colega Carlos Drummond de Andrade, a quem não caíram os parentes na lama por escrever "Futebol":
EliminarFutebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas de pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São voos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
— afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
Completamente. Bom dia!
EliminarÉ verdade, o Carlos era um anjo que passou velozmente pairando. Mas também eram outros tempos! Comedidos, honestos, de amor à arte...
EliminarDepois, eu sou um cínico elistista e empedernido que oscilo, quanto a desporto, entre Churchill, o voleibol e o ciclismo - que deus me perdoe!...
Pois é, Margarida, até pelos uivos e barulho isto é deprimente.
ResponderEliminarBom dia!
O futebol é um jogo que qualquer pessoa pode jogar e por isso é extremamente popular. Veja-se de onde vieram os maiores jogadores do mundo. O mesmo é válido para o atletismo e, em menor escala, para o ciclismo, porque aqui precisam de uma bicicleta..
ResponderEliminarAgora o que a tv faz do futebol é que é incrível. Principalmente a RTP.
Sou do Benfica (mas não sou doente), mas nunca me poria na figura do Ribeiro e Castro, que vi. Até me iam caindo os queixos.
Eu gosto de atletismo e de hóquei em patins.
Ficava colada à televisão a ver a equipa do Livramento, Ramalhete, Júlio Rendeiro, Adrião, Vaz Guedes... e já não me lembro do nome dos outros.
E de irmos para a rua ver o final o final da Volta a Portugal em Bicicleta. :)
Todas essas memórias lembradas pela MR, também eu as vivi (ciclismo, hóquei...), com autenticidade, alegria e comedida paixão.
EliminarO desporto era mais limpo, os ordenados modestos, para os praticantes. Hoje sabemos como os propósitos estão inquinados, como se incendeiam os ânimos e as paixões. Como, por esse mundo fora, a trindade santíssima (futebol, autarquias, construção civil) é responsável por tanta corrupção e desatino. Qualquer bicho careta questiona o chorudo ordenado de um gestor, mas quase nunca se escandaliza pelas quantias astronómicas que se pagam a jogadores e treinadores de futebol. Há muita hipocrisia nestas matérias e muito terror sacro naqueles que se calam e aplaudem com a maioria, nunca dizendo que não gostam "deste" futebol. Só não entram é na guerrilha urbana que as claques selvagens, tantas vezes provocam.
Eu, passo.