Céptico e satírico deveria ser um espírito que se distinguisse pela sua extrema avidez de tudo conhecer. A sua imensa cultura fornecer-lhe-ia abundantemente os meios de se desencantar. Ele transformaria, alegremente, em mitológica e bárbara qualquer norma social. Os nossos usos e costumes mais respeitáveis, as nossas convicções mais sagradas, os nossos ornamentos mais dignos, tudo seria convocado, pelo espírito erudito e engenhoso, a ingressar numa mera colecção etnográfica, acasalando com os tabus, os talismãs, os amuletos das tribos; por entre os ouropéis e os despojos das civilizações já ultrapassadas e destronadas do poder por causa da sua exótica e curiosa singularidade.
Paul Valéry, in Variété IV (pgs. 37/8).
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