domingo, 4 de janeiro de 2015

A magnólia de José-Augusto França



Eu julgo que qualquer ser humano tem a sua árvore de referência ou eleição. As minhas primeiras árvores de estima foram uma ameixoeira e uma figueira. Esta última parecia retorcer-se até ao céu, no quintal vizinho do meu amigo Fernando. Por ela, tanta e tanta vez, trepámos!... A outra, muito mais maneirinha, florescia e frutificava no meu pequeno quintal minhoto, até que, um dia, secou e deixou de dar essas, para mim, antiquíssimas ameixas vermelhinhas.
No seu lugar, foi plantado e cresceu, dando frutos generosos, um belíssimo limoeiro que passou a ser a minha árvore preferida e emblemática, para sempre. O branco nupcial da floração e, depois, o verde e o amarelo dos limões deram-me para mais do que um poema... E estão lá, no fundo da memória. Mais os outros dois outrabandistas e presentes, quase bonsais, na varanda a leste.
Ora, para lá do cedro do Príncipe Real e de tantas outras árvores do Jardim Botânico de Lisboa, no segundo livro de memórias (Memórias para após 2000, Livros Horizonte, Lisboa, 2013) de José-Augusto França (1922), ergue-se e destaca-se, em Jarzé (França), uma magnólia. Assim:

"A magnólia mesmo, de há meia dúzia de anos para cá, árvore centenária, aclimatada da Índia, e mal reconhecida de reacções biológicas, especialistas a especialistas, remédios a remédios experimentados, uma muleta que se lhe fiz dar, para suportar o peso da ramagem virada a nascente, mais abundante, mas que se rendilha, perdido o lustro verde das longas folhas e só, ainda, brotando, em Junho e Julho, belíssimas, acetinadas e olorosas flores que são, afirmam os pré-historiadores, as mais antigas do mundo, conhecidas em fósseis e que persistem, ano a ano das nossas eras... Até este «Pavillion» onde vejo (com André) falecer a minha árvore de adopção e referência. Qual de nós os dois, pergunto também, se irá primeiro? Abatê-la, aconselham os sabedores, e dentro de vinte anos outra grande árvore, à escolha, no mesmo sítio terá crescido. Vinte anos? Muito obrigado..." (pgs. 148/9).

4 comentários:

  1. Não sabia que a Magnólia era tão antiga.
    Gosto muito de limoeiros.
    A árvore de que mais gosto, quando floresce (mas num tempo tão curto) é o jacarandá. De resto, tenho de pensar. Mas gosto de árvores de fruto, como o limoeiro, pelas cores. Gosto muito de amarelo na natureza - alegra-nos!
    Bom domingo!

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    1. Também gosto muito dos jacarandás, ainda para mais por florirem duas vezes por ano, em Portugal, por causa da sua memória biológico-genética. Mas os limoeiros têm a minha primazia...
      Uma boa tarde de domingo!

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  2. Uma beleza, esta Magnólia !!
    Nunca vi tão grande e tão densamente florida !
    Mas a árvore de que mais gosto, floresce com abundância no Inverno e, qualquer que seja a estação, permanece com as suas fortes e lustrosas folhas: é a Japoneira. E se for vermelha, é mesmo uma festa de Inverno na árvore e no chão...
    Uma boa noite !

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    1. Tanto a japoneira, realmente, bem como a cerejeira, ao florirem, são um esplendor e uma beleza. E uma alegria para o olhar de quem vê - gosto imenso.
      Mas os limoeiros continuam a ter a minha primazia.

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