Na
vivência democrática sempre me incomodaram certos paradoxos que, de forma
encapotada, se revelaram, desde cedo, no sistema educativo. Uma dessas
incoerências, em que sempre tropecei com indignação, consta do seu
enquadramento legal, ou seja, da sua Lei de Bases.
Alguém,
de perfeito juízo, acredita neste palavreado incoerente, quando se afirma, em
jeito de preâmbulo, que “O Estado não pode atribuir-se o direito de programar a
educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas,
políticas, ideológicas ou religiosas (...)" ?
Olhando
à nossa volta, e porque não concebo a realização de qualquer acção humana num
espaço neutro, verifica-se que a chamada “crise dos valores” se aproxima,
afinal, de uma profusão de “não valores” que resultam dessas directrizes de
moralidades inconfessadas e encapotadas.
Exemplifiquemos.
Quando
se institui, no Ensino Básico, uma carga horária de 3 h semanais para a
disciplina de Educação Física, idêntica às disciplinas de Inglês ou Francês, de
História ou Geografia, não estamos perante uma directriz a que subjaz uma
valorização ideológica, política ou até
filosófica ? Valorizamos, pois, “os valores e princípios associados a uma vida
activa”, ou como afirmou, recentemente na imprensa, uma representante do
Desporto Escolar, o efeito “super-pedagógico” (sic) das aulas de Educação Física.
O
perverso deste desconchavo constata-se diariamente. Dificilmente se encontrarão
os efeitos da “Ética do Desporto Escolar”, com a sua proclamada formação
orientada por valores como a Tolerância e o Humanismo, perante criaturas a dar
“urros” em cada pontapé na bola, usando um precário e reduzido vocabulário do
mais baixo nível de língua, sem respeito pelo sossego e ambiente do seu semelhante.
Falta
explicar também o efeito “super-pedagógico” perante a ausência de qualquer
sentido de tolerância nas hordas de “hooligans” que proliferam à volta do
futebol e que, paulatinamente, se têm vindo a organizar em movimentos – numa
mistura de Pegidas e Hogesas de má fama castanha - como os que vemos na
Alemanha.
De
facto, o Estado não pode atribuir-se o direito de falar em Humanismo, nem
quanto à disciplina de Educação Física, nem no que se refere à sua acção
política, porque é uma palavra demasiado elevada e cheia para sair de uma boca
tão pequena.
Post de HMJ
Mas que bem dito, ou melhor, escrito, cara HMJ! Eu, que sou uma ex desse ramo, estou plenamente de acordo!
ResponderEliminarPara Maria A.:
Eliminarobrigada pelo comentário solidário. Mesmo como "ex desse ramo", ainda há muito SISTEMA a incomodar-me. Felizmente, já no livrámos do quotidiano "Reino da Estupidez".