sábado, 17 de janeiro de 2015

Bibliofilia 115


Com texto de Raúl Esteves dos Santos e cuidada direcção gráfica de Martins Barata, esta monografia profusamente ilustrada com fotografias da região de Colares, editada em 1938, sob o patrocínio da Adega Regional homónima, terá, para os actuais enólogos, um interesse quase arqueológico. Devido às profundas alterações tecnológicas e científicas que o vinho português teve, nos últimos 30 anos.

Quanto ao lado histórico e turístico, grande parte da sua actualidade mantém-se. Lido o pequeno livro, de cerca de 70 páginas, muito se fica a saber sobre Colares e sua zona envolvente, bem como sobre a casta Ramisco que, mercê de ser plantada em terrenos arenosos, sobreviveu, até, à praga da filoxera, e continua a produzir, desde a Antiguidade, os seus apreciados vinhos. Fiquei também a saber a origem do nome da célebre Praia das Maçãs: "...Do rio de Colares, que serpenteava veloz por entre pomares e dêles arrastava os frutos que vieram dar nome à praia onde tem a foz. ..."
Adquirido recentemente e numa das últimas feiras de Sábado, na Rua Anchieta, em Lisboa, o pequeno livro custou-me 5 euros. A "Antiquário do Chiado" online tem na sua oferta de vendas um exemplar, também brochado, ao preço de 45 euros. Bem poderia, pela diferença de preços, oferecer de bónus, na compra, uma garrafa de Vinho de Colares, para o leitor degustar, enquanto vai lendo a monografia...

7 comentários:

  1. Tem graça que ainda há dias o folheei. Mas se fosse com uma garrafinha de Colares, talvez o tivesse lido. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida..:-)
      Ainda estou para perceber, um dia, estas enormes discrepâncias de preços, nos livros usados. Será só ganância ou má estratégia comercial?...

      Eliminar
    2. É tão, ou talvez mais, justo falar em ignorância de quem o vende a 5 como em ganância de quem o vende a 45: apesar de tudo, o preço médio do livro está bem mais perto dos 45 (puxadinhos, de facto) do que dos 5 (borla). E, se levar ao corolário lógico o seu raciocínio, dirá, quando vir na Anchieta um exemplar da primeira edição da «Mensagem» a 5€, que quem o venda a 5000€ lhe pode, pela "ganância", oferecer uma carrinha, para as mensagens todas...

      Não sejamos populistas. Nem pretendamos levar à falência, mais do que já parece estar a ir, esse velho e respeitável ofício do livreiro antiquário. A não ser que se queira comprar tudo ao monte na rua e na internet. Comprar livros que são vendidos quase como tralha.
      Pela minha parte, continuo a preferir entrar numa boa livraria e falar com um bom livreiro. Pode-se sempre aprender alguma coisa, e até isso já vale uns trocos a mais. A não ser que se pretenda que também os professores, por exemplo, passem a ensinar de graça, claro está. Já estivemos mais longe disso, aliás.

      Eliminar
    3. Populista me parece, antes, o exemplo descabido de "Mensagem" ao inverosímel preço de 5 euros. Mas recordo-lhe, discreto Anónimo, que a primeira edição desta obra de Pessoa, com diferença de poucos anos, a vi vender de 400 a 1.200 contos, dos antigos. Oportunidade ou oportunismo - venha o diabo, e escolha!...
      Prezo, evidentemente, os bons livreiros alfarrabistas, que vão rareando, mas não aprecio os arrivistas especuladores e gananciosos que compram por tuta e meia, mas vendem caríssimo, muitas vezes.
      Creio que os que vendem por preço justo têm sobrevivido, na sua maioria. E justamente.

      Eliminar
  2. De populista não tinha nada, era só um argumento «ad extremum» seguindo a sua linha de raciocínio, e nem tão implausível quanto possa parecer. O ponto, que me parece bem óbvio, é o de a Anchieta e outras feiras de rua não determinarem o valor «efectivo» de um livro, mais a mais no caso do livro antigo, sempre especialmente subjectivo.

    Para fazer profissão de livreiro vendendo livros como este a 5€, só se os comprar por cinco cêntimos e conseguir vender mil ou mais por mês (não consegue, suponho). Na rua, não paga despesas. Se tiver uma loja no Chiado, só de renda deve pagar esses mil por mês. Não é preciso termos, nenhum de nós, uma loja para calcular isto.

    De resto, em desacordo: creio que são justamente esses "arrivistas" (não tem mal nenhum, pelo contrário) "especuladores e gananciosos" (também não tem, se houver quem compre, uma vez que não estamos propriamente a falar de bens essenciais, como o pão; mas que é mais feiinho, estamos de acordo nisso) quem se está a safar. Não sei se é o caso dessa Antiquária do Chiado, que não conheço. O que sei é que os que vejo fechar portas são os mais equilibrados e ponderados; e não vendem bons livros a 5€, que faria se vendessem...

    Em suma: nunca o vi, no Arpose, pôr, por exemplo, qualquer espécie de reparo pecuniário aos vinhos de que bastante fala e que diz comprar. Os livros, acha-os sempre caros a não ser que os compre a 2 ou 3€. Se um dia, por hipótese, pusesse a sua biblioteca a leilão, e o leiloeiro o consultasse quanto aos preços-base, duvido que os marcasse a esses 2 ou 3 €. É tudo, de facto, uma questão de pontos de vista...

    Para mim, um bom livro raro é algo que deve evidentemente valer mais do que um vinho, mesmo que bom, corrente (compra o n.º de garrafas que lhe apetecer). Nem é preciso chamar aqui a lei da oferta e da procura. Não estamos, enfim, de acordo. E olhe que gosto bem de vinho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A discordância faz parte da democracia, mas:
      - admitamos que não tenha lido, com excessiva atenção, algumas observações minhas sobre o preço excessivo de alguns vinhos (do Douro, sobretudo) que poderiam matar a galinha de ovos de ouro, da enologia portuguesa;
      - tenhamos em linha de conta que não se lembre (o que é naturalíssimo) exaustivamente dos diversos postes de "Bibliofilia", aqui no Arpose (48, 68, 74, 86, 100, entre outros, por exemplo), nem do necessário "aggiornamento" de preços;
      - Aceite, por fim, a incomodidade, para mim, de dialogar com um (embora discreto) Anónimo, sobre assuntos sérios.

      Eliminar
  3. É bem possível que nem os tenha lido de todo: tenho acompanhado o seu blog, mas nada religiosamente, pelo que a minha perspectiva é panorâmica: a "impressão de conjunto" que fica (se injusta, peço desculpa) é a que referi: críticas que parecem demasiado habituais, às vezes excessivas e outras vezes justas, ao preço dos livros antigos, que não têm correspondência, por exemplo, nos vinhos; nem em mais nada de que agora me lembre. De qualquer modo, admito que sou suspeito, porque também são livros o que colecciono. Suspeito ou o contrário. Depende, lá está, dos pontos de vista.

    O anonimato e a «identificação» em meio virtual são uma falácia, como facilmente compreenderá. De qualquer modo, para lhe obviar ao incómodo, não o maço mais, nem vejo especial vantagem em contrapor ao seu discreto e sóbrio APS um espampanante, extenso e quase exibicionista nome. Nem o que me deram em baptismo, nem outro qualquer...

    Quanto ao assunto, não é demasiado sério. Há coisas piores.

    Os meus cumprimentos,
    CP

    ResponderEliminar