terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Divagações 80


As palavras litania e ladainha têm um étimo comum, sendo que a primeira teve um percurso mais laico e erudito, no tempo, mas hoje é pouco frequentada. Eugénio de Andrade (1923-2005), no entanto, usou-a, como título, num poema do seu livro "As Palavras Interditas" (1951). É um poema de amor que, porém, ao contrário do que seria expectável, não utiliza refrão ou expressões repetitivas, no seu todo. Nem anula a sua inteira compreensão pensante e sensitiva.
O vocábulo ladainha tem um significado de prece litúrgica. E aplica-se, normalmente, a recitativos colectivos que respondem a uma invocação. Da minha experiência, antiga e religiosa, sei que esse refrão (Orai por nós!) acaba por ser quase mecânico. Já nem era pensado: saía automaticamente. A apropriação colectiva e repetitiva tem esse perigo, destrói-lhe o significado. Pode unir um grande espaço físico, mas anula o pensamento necessário e individual.

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