"...Sou um homem que nunca fez da poesia uma carreira. Passei trinta e cinco anos a fazer inquéritos e processos disciplinares, sem o menor gosto mas com grande sentido de responsabilidade, e escrevi a poesia de que fui capaz nas horas que me deixavam livres a profissão de inspector de uns serviços do Ministério da Saúde, que ainda aí estão, cada vez piores, ao que consta. Digamos, para não me alongar a falar de mim, que a poesia, o apelo de fazê-la, sempre oscilou entre um fervor heróico frente à vida e uma fascinada apetência de silêncio. Ainda hoje, depois de mais de quarenta anos de vivê-la, não sei qual destas vertentes é a mais forte, e provavelmente todo o meu esforço é no sentido de fazer de ambas uma só música. ..."
Eugénio de Andrade (1923-2005), in Poesia e Prosa ** (pg. 284).
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