quinta-feira, 5 de junho de 2014

Diário sucinto de umas férias, sem rede, no Alto-Douro (4)



Dos animais domésticos, sempre prezei mais os canários, pelo seu cantar, sobretudo, mas também pela elegância corporal e pelas suas cores.
28/5
Em geral, não gosto de cães, pelas muitas mordidelas que sofri na infância e minha juventude. Mas tenho uma especial simpatia pelo jovem (com quase ano e meio) Póxi, da raça Labrador (Retriever) do sr. Pedro. Quando o dono vem trazer a botija de gás a nossa casa, pela picada sinuosa que desce de Donelo, o Póxi trota alegremente à frente da carrinha, sempre uns dois ou três metros adiante. Da corrida, chega já cansado, mas parece feliz, e deita-se nas lajes de xisto, que rodeiam a habitação, ficando a resfolgar, de língua de fora e pendente. E, se lhe trazemos um balde de água do poço, bebe sofregamente até ao fim. Quando termina, olha-nos atento e parece agradecido. A sua alegria contagiante chega a mim.
11h40 - Galafura (S. Leonardo de), de Galafre, emir mouro que, segundo a tradição, por aqui construiu um fortim, em tempos imemoriais, no pequeno planalto, donde o Douro se pode ver em quatro perspectivas, bem como o Marão, ao longe. Na igrejinha do topo, em azulejos simples, um poema de Torga que, na sua discursividade prosaica, cai bem, ao ler-se, embora do Poeta transmontano eu lhe prefira a "Bucólica" ("A vida é feita de nadas...") - para mim, um dos grandes poemas em língua portuguesa.
No pequeno restaurante "S. Leonardo", com magnífica vista sobre o Douro, almoçámos um cabritinho assado, delicioso, com arroz de carqueja a condizer, acompanhado por um "Quinta dos Mattos", tinto reserva de 2008, onde entrava Tinta amarela, casta não muito frequente, por estas bandas. Serviço atento e gentil, preços justos. E, se não fora à entrada, a fotografia na parede, da múmia de Belém, que aqui refeiçoou, em 1993, na sua versão de PM, seriam tudo boas recordações... Mas que fazer?, se, daqui, não estamos longe do Cavaquistão.

Obsv: Infelizmente, não fotografámos o Póxi. A imagem é do cão mais parecido que achei na net...

4 comentários:

  1. É bem verdade que
    «A vida é feita de nadas;
    De grandes serras paradas
    À espera de movimento [...].»
    Bom dia!

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  2. Uma maravilha, bem como "a trança..."
    Bom dia!

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  3. [de]
    «Meu Pai erguer uma videira
    Como uma mãe que faz a trança à filha.»
    Por acaso tb são os dois bocados que prefiro: o in´cio e o final. :)

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    Respostas
    1. Exactamente!
      É um dos poemas de Torga que não me canso de reler, embora o saiba (quase todo) de cor.

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