domingo, 22 de junho de 2014

Os outros vampiros


Parece quase não ter alma, este nosso tempo. Nesta ciganagem mercantilista global que tudo conspurca e envilece, mesmo os produtos do espírito. E parece não haver maneira de mudar os propósitos, nem as mentalidades, criando uma nova ética.
Ontem, um visitante português, provavelmente em pesquisa sobre Herberto Helder, através de um motor de busca foleiro, que dá pelo nome pindérico de bing, veio dar ao Arpose. Com os meios de que disponho, segui-lhe o percurso, parcialmente, e fui dar a um banco de dados, em que as primeiras informações forneciam logo 2 entradas de Hotéis Helder... brasileiros, já se vê. O nosso Blogue vinha a meio da página, mas antes constava o inefável OLX, tão propagandeado pelas TV. E, aí, vinham mais helderes, para venda. Particulares lusos, desses tais vis açambarcadores de A Morte sem Mestre ( e de outras últimas recentes obras do Poeta madeirense), montavam banca e anunciavam, para meu grande espanto:
- A 45/50 euros, negociáveis, A Morte sem Mestre (o livro, em Livraria, custou-me 22).
- Servidões era oferecido a 85, 95 e 100 euros.
- Finalmente, um negreiro juntava num mesmo pack 3 obras de H. H. (A Faca não corta o Fogo, mais as duas anteriores), pedindo pelo conjunto 600 euros!...

P. S. : a encimar o poste, mais um poema de Herberto Helder, para os excluídos...

6 comentários:

  1. Finalmente, consegui reserva, mas paga previamente. Ao que chegámos...
    Quando não havia este comércio nojento à volta dos livros de H. H. era tudo mais fácil.

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  2. Foi tudo um pouco surrealista e inacreditável. Valeu-me a "fidelização" que tenho a uma Livraria outrabandista, que tem um critério de excelência e regras éticas de comportamento comercial correcto.

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  3. O Bing terá um nome pindérico, mas é o segundo motor de busca mais utilizado do mundo. É da Microsoft.

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    1. Quando vejo a palavra, lembro-me sempre da alcunha do Sarkozy: "Bling-bling"...

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  4. não permitir que tenham mais do que uma edição faz com que os títulos do poeta se tornem produtos inflacionados... ou então, que se vendam por um valor adequado à obra do autor se bem que a poesia não devia ser um bem comercial

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    1. Pose ou não, H. H. sempre cultivou um grande afastamento da cena e "feiras" literárias. E o seu (?) lema "Meu Deus faz com que eu seja sempre um poeta obscuro" excita a curiosidade de um tempo e gentes que fazem seu "leitmotiv", e preocupação maior, um despudorado exibicionismo e um devassar da sua própria vida privada.
      Dito isto, creio sinceramente que o núcleo duro e autêntico de verdadeiros leitores de poesia, em Portugal, não deve ultrapassar o número de 1.500. Ora, esta edição teve, como as duas últimas, uma tiragem de 3.000 (5.000?) exemplares... Parece-me que o problema está a jusante.

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