terça-feira, 17 de junho de 2014

A memória e o tempo


Naquela altura, eu sobrava bastante no grande maple de orelhas, do meu Tio. De lá e em frente, eu via as duas compoteiras (?) de cobre trabalhado, uma com as bolachas de Araruta, insípidas e pálidas, a outra, com as Maria, que eu ainda suportava. Mas, por cima de mim, omnipresente, o relógio musical ia contando esse tempo imenso da infância, de quarto em quarto de hora. E era importante, porque eu sabia que, por volta das 18h30, tinha de ceder esse lugar reconfortante  ao meu Tio, que chegava a casa, depois do trabalho.
Só talvez 30 anos depois, eu voltei a encontrar um assento assim cómodo, seguro, que me enchesse as medidas. Mas sentar, muitas vezes, ainda me sento na infância da memória.

8 comentários:

  1. De maples não tenho memórias, mas das sequíssimas ararutas... Que vício!

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    1. Eu não gostava nada, mas comia por obrigação, porque a minha Tia era das que me oferecia, primeiro...

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  2. Muito interessante. Nunca tive um assento assim. Bom dia!

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    1. Graças ao trabalho do meu Tio, eu tive-o de "empréstimo", alguns anos..:-)

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  3. Adoro bolachinhas ararutas, que curiosamente só me lembro de comer já adulta. Gosto do ligeiro sabor adocicado.

    Tenho um sofá para restaurar, que era do meu pai e onde todos gostávamos de nos sentar (eu e os meus irmãos).

    Não basta ter memórias interessantes ou engraçadas, é preciso sabê-las contar. Encanto-me com os seus textos.
    Bom dia :)

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    1. Muito obrigado, Isabel. Às vezes, escrever com o coração ajuda.
      Uma boa tarde!..:-)

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  4. Detesto bolachas de araruta, exceto uma que eram cobertas por chocolate preto. A minha avó é que as comprava.

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