O pintor dispõe de um plano de pastas coloridas e de linhas de separação, de espessuras, as fusões e os contrastes devem servir-lhe para se exprimir. O espectador não vê aí senão uma imagem mais ou menos fiel das carnes, dos gestos, das paisagens, como se fosse através da parede de um museu. O quadro é julgado no mesmo espírito da realidade. Uns queixam-se da sua fealdade, outros ficam embevecidos; alguns abandonam-se à psicologia mais palavrosa; outros, ainda, não olham senão para as mãos que lhe parecem inacabadas. O facto é que, por uma insensível exigência, a tela deve reproduzir as condições físicas e naturais do nosso meio. A penumbra manifesta-se aqui, a luz parece propagar-se dali; e, gradualmente, colocam-se na primeira linha dos conhecimentos pictorais a anatomia e a perspectiva: entretanto, eu creio que o método mais seguro para julgar uma pintura é o de, à partida, não reconhecer nela, à priori, nada, nem sequer lhe aplicar uma série de inducções para justificar uma presença simultânea de manchas coloridas sobre um campo limitado, para daí crescer de metáfora em metáfora, de suposições em suposições sobre a inteligência do sujeito - por vezes, até, pela consciência do prazer - que nem sempre teremos, porventura.
Paul Valéry, in Variété I (pg. 239).
Gostei do texto e concordo com o autor. Boa semana!
ResponderEliminarTambém achei um texto de grande lucidez.
EliminarRetribuo os votos, cordialmente!