No caso em apreço, não vale a pena
fazer uma declaração de interesse prévia, porque nunca participei, de uma forma
consciente e assumida, na terrífica engrenagem dos exames nacionais.
Sujeitei-me, consequentemente, ao estatuto menor da docência, i.e., não leccionar
a matéria do 12º Ano. O que para alguns era a “cereja em cima do bolo”, o
último ano sempre o considerei um tempo perdido para o essencial, a saber, o de
contribuir para pensar, com autonomia, saber e empenho.
Convenhamos que, há muito tempo, os
exames nacionais, introduzidos com o argumento de peso de tornar a avaliação
final mais objectiva, contribuem para treinar criaturas a reproduzirem
determinados chavões. Basta olhar para os chamados “cenários de resposta”, que
os alunos são instigados a “encornar”, para perceber o enquadramento formal e
ideológico dos correctores, reduzindo as respostas ao “grau zero da escrita”.
Ora, o que o mais tosco estudante de
Línguas e Literaturas devia ter apreendido na sua passagem pela Universidade é
o facto de qualquer língua constituir um sistema de combinação inifinita –
graças aos seus criadores – o que faz com que nenhum texto, tanto sobre
matérias exactas como de literatura, seja idêntico. Felizmente, e em louvor da
LÍNGUA !
Olhando, pois, para a deriva dos
exames nacionais que, vergonhosamente, enriquecem determinadas editoras,
publicando reproduções de exames oficiais anteriores a preços exorbitantes,
fica a tristeza e a revolta profundas perante tanta falta de seriedade, brio
profissional e sentido democrático na defesa da língua e da literatura.
Como não faz parte do meu universo
desejar “sorte” aos examinandos, porque considero que uma prova, qualquer que
ela seja, se destina a avaliar um quadro de referências linguísticas,
literárias, culturais e sociais, construído paulatinamente e que nos permita,
com autonomia, pensar a vida e o mundo que nos rodeia, resta-me a apreensão
perante mais uma amputação de cidadania, implícita nos exames nacionais que se
avizinham.
Portanto, o ressurgimento das
sebentas, no ensino universitário, não me espanta. É a consequência lógica de
um “bom caminho” que a educação está a traçar. E que ele seja, de preferência,
em Inglês, a bem da internacionalização !
Post de HMJ
O "rei vai nú" mas ninguém repara. E quem repara é morto!
ResponderEliminarPara JAD:
EliminarPois. E, por vezes, a matança faz-se com requintes de malvadez.