segunda-feira, 6 de maio de 2013

Borborigmos, ou a Dobrada em Poesia


Ninguém, conhecedor de Poesia, esquecerá a queixa de Pessoa, num poema, por lhe terem servido, e mal, Dobrada fria. Mas também Alexandre O'Neill (1924-1986) se queixou, no poema As Voltas da Poesia, dos borborigmos resultantes da sua difícil digestão. Aqui vai o poema, para que conste:

Borborigmo a expensas da dobrada.
Para uns, é alma alanceada;
para outros, quilo tão ronceiro
que lhes dá resmoneio o dia inteiro,
a conversa visceral fiada
que os versos são, primeiro.

Em qualquer dos casos, venham mas é versos,
bem tirados, acabados, tersos,
que a dobrada, essa, se por lá traquina,
é para coisa que se veja, chula ou fina.

Alexandre O'Neill, in Feira Cabisbaixa (1965).


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