quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sobre o rio


Os estorninhos já se atrasam nos seus voos, porque a luz  se arrasta indolente até mais tarde. O brilho do sol nas águas, visto por entre a folhagem, parecia fervilhar em mil pequenas luzes próximas que enganavam o olhar. Mas junto ao rio de um azul nítido e sólido, serenavam quase sem agitação, compondo uma lagoa inesperada, imensa. Por duas vezes, porém, romperam ondas de pequena dimensão, lambendo o cascalho escuro da margem. Dois pescadores, mais por entretém que para sustento, lançavam a linha para o longe possível e, no intervalo, falavam de Porto Brandão e da Trafaria. Casais jovens deitavam-se por ali, à carícia do sol da tarde. Enquanto as gaivotas iam altas, os dois patos negros selvagens rasavam as águas, interminavelmente, para lá e para cá, leste-oeste-leste... Surgiram de nenhures, talvez ao fim do dia se sumissem em direcção ao mar. A lua, ainda sem luz, ia-se enchendo, e parecia transparente no horizonte.

2 comentários:

  1. Provavelmente, uns patos que antes migravam e agora (como acontece com tantas outras aves) vão-se deixando ficar...

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  2. É bem possível, c.a., até porque a luz e a temperatura estavam amenas, e convidavam a ficar por ali.

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