domingo, 29 de janeiro de 2012

Esquerda caviar


Com o sugestivo título de "O último combate de Jack Lang, o inoxidável", o jornal "Le Monde" (obrigado, H. N.) de 20/1/2012, dá notícia de que um dos últimos grandes dinossauros da era miterrandista, em actividade, aos 72 anos, se prepara para concorrer à 2ª circunscrição de Vosges (Saint-Dié), região onde nasceu em 1939. A sua imagem política de parisiense e cosmopolita, concorrendo para uma zona de província, de forte implantação de operariado, faz o jornal apelidá-lo de "gauche caviar". Mas o antigo ministro da Cultura de François Mittérrand que, com Melina Mercury, é responsável pela ideia notável das Cidades Capitais Europeias da Cultura, mantém uma cota de popularidade ainda invejável.
Por cá, a classificação de esquerda caviar, mediaticamente, salpica apenas o BE. Muito embora, do meu ponto de vista, há muito boa gente do PS que, mais rural e menos cosmopolita, contudo, pudesse ter direito à classificação. Abstenho-me de citar nomes porque alguns casos são óbvios e aparecem nas revista róseas, com frequência. Por outro lado, o que me importa destacar é Jack Lang (1939), político por natureza e convicção, que, depois de ter tido cargos bem importantes, não hesita em concorrer por um círculo eleitoral de província, no norte de França, aos 72 anos. Cargo que, se vencer nas urnas, nada lhe vai acrescentar ao curriculum e prestígio pessoal.
Quando a maior parte dos políticos portugueses, depois de exercícios ministeriais, se recolhem a mordomias chorudas, ou os "Indignados" se amodorram, de Inverno, nas aquecidas casas dos pais, à espera de tempo mais quente, para vir acampar nas praças principais das cidades, sabe bem, como exemplo, ver Jack Lang regressar à luta política, no inverno da idade, mesmo que seja pela conquista de um lugar de província e quase obscuro. É isto, no fundo, que faz a diferença nos homens. Entretanto, Mário Soares dá, hoje, na RTP2 e programa Câmara Clara, uma entrevista, cerca das 22,30 hrs., a propósito da recente saída de um seu novo livro. Não vou perder.

5 comentários:

  1. Enfim, Lang concorre para quê? Para vereador? Ou para deputado? Aí, há que atalhar um pouco o raciocínio, caro APS: até José Sócrates concorria por Castelo Branco...

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  2. As eleições (Junho de 2012)são legislativas e destinam-se à eleição dos 577 deputados, em França. Formalmente, meu caro acosta, tem razão quando compara, citando, o exemplo português de Sócrates. Muito embora o exercício do cargo político em França (e na Inglaterra, ainda mais),como deputado, seja de muito maior proximidade e representatividade regional, para com os eleitores, ao contário, na prática, do que acontece em Portugal. Por outro lado, Sarkozy já fez 2 aproximações a Lang, que ele declinou, em relação a cargos políticos. Parece-me que lhe importa mais o exercício político (creio que ele vai abandonar o círculo de Pas-de-Calais, pelo de Saint-Dié que é menos importante) do que prebendas e notoriedade. Importava-me destacar, no poste,sobretudo a vitalidade política de Jack Lang e o propósito deontológico nobre. De que nós, em Portugal, infelizmente, temos poucos bons exemplos. Carrilho, por exemplo, quase "exigiu", depois de ministro, o lugar na Unesco...

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  3. Só em Portugal, que ainda não se libertou daqueles malditos 40 anos, é que isso acontece. Em países com tradição democrática, um antigo PR ou PM poderia voltar a se ministro noutro Governo. O que aconteceu, por variadas vezes, CÁ, durante a República.

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  4. Queria ter escrito: ... ser ministro...

    Quanto a Jack Lang, o papel dele como ministro da Cultura foi importantíssimo para dar visibilidade a uma área completamente despresada na governação em todos os países. Idem para Melina Mercouri.

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  5. A maior parte desta gente, MR, não se resigna a voltar ao "anonimato"...
    Quanto a Lang, com Malraux, considero-os os grandes ministros da Cultura, em França. E dificilmente poderão ser esquecidos e/ou ultrapassados, na qualidade da obra que deixaram.

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