sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Salão de Recusados XL : um poeta menor do Turcifal



O século XVIII e os primeiros anos do séc. XIX são um tempo de convergência de várias correntes e escolas de poesia, em Portugal. Desde o barroquismo tardio de um Pina e Melo, passando pelo neo-classicismo de um João Xavier de Matos, até ao pré-romantismo de Anastácio da Cunha, tudo coexiste, quase tranquilamente, no país. E os poetas diversos vão tendo leitores e devotos admiradores dos seus versos. A primeira edição das "Poesias" (1786, Porto), do Abade de Jazente, esgotou a sua tiragem de 2.000 exemplares, em menos de seis meses. Compreende-se: era uma voz nova e um poeta singular.
Por outro lado, verifica-se que uma boa parte dos poetas não estava particularmente interessada em publicar, em livro, as suas obras. Não fora a insistência de algum editor fervoroso, ou amigo desinteressado que ia juntando os manuscritos ou insistindo com o vate, e muitas obras teriam ficado inéditas ou ter-se-iam perdido. Xavier de Matos e Jazente, são dois exemplos de obras que foram publicadas graças ao interesse de amigos e impressores. Noutros casos, os livros foram editados postumamente: Correia Garção, Dias Gomes, Cruz e Silva cujo "Hissope" só foi publicado em 1802, três anos após a sua morte, porque havia muitos manuscritos do poema na mão de amigos.
Mas houve também muita obra poética de medíocre qualidade que se publicou, na época, por força e vontade dos seus autores, alguns deles mendigando o alto patrocínio de aristocratas que teriam dinheiro, mas pouco sentido crítico em relação à poesia. Este poeta menor, João Sabino dos Santos Ramos, que nasceu no Turcifal, termo da vila de Torres Vedras, era, segundo Inocêncio (Tomo IV, pg. 32), proprietário e lavrador, tendo nascido a 11 de Julho de 1789, e talvez por ter bens próprios mandou imprimir a obra à sua custa na Oficina de Simão Thaddeo Ferreira, em 1815. Também segundo Inocêncio, João Sabino cegou a meio da vida e veio a falecer em 1855. Devia saber latim, tinha alguma cultura e admirava Bocage.
A sua poesia é medíocre, mas o livrinho tem algumas curiosidades. Ficamos, por exemplo, a saber que, no dia em que Bocage foi sepultado (soneto XVI, nota 2), "chovia mansa, mas desusadamente". Também há um poema dedicado ao "senhor Oliva, editor do Telegrafo" (pg. 185). E há também uma pomposa " Canção Heroica dedicada na restauração de Badajoz, ao excellentissimo senhor marechal general Lord Wellington, pelo novo, honorífico título de Marquez de Torres Vedras".
O livrinho deste poeta obscuro, menor e esquecido, custou-me, nos anos 80 do século passado, Esc. 1.400$00 (cca. 7,00 euros), no Centro Antiquário Alecrim, Lda., na rua do mesmo nome, nº 48-50, em Lisboa. O livro, brochado, está em bom estado, embora tenha algumas anotações a lápis dos sécs. XIX e XX.  

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