domingo, 22 de janeiro de 2012

Minudências estruturalistas e linguísticas


Ao arrumar livros antigos, deparei com um fastidioso volume intitulado "Linguística e literatura" (Edições 70, 1976) que, creio, tive que ler por razões curriculares. O livro tem contribuições variadas e segue os dogmas estruturalistas da época, hoje datados e obsoletos, prática e felizmente. Encontrei, no entanto, ao folheá-lo algumas transcrições de uma carta interessante de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro, sobre os heterónimos, comentadas por Luciana Stegagno Picchio e Roman Jakobson. Aqui vão, as palavras claras de Pessoa, intercaladas pelos comentários dos estudiosos estrangeiros (em itálico):
"Criei então uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve."
O relato do poeta deve ser tomado à letra:
"Aparecendo Alberto Caeiro, tratei de lhe descobrir - intuitiva e subconscientemente - uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe um nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via."
A assinatura do mestre Ca-ei-ro entra, com duas metáteses (ir-ri e eir-rei), no nome e no sobrenome «ajustados» para designar o discípulo Ri/cardo Rei/s e, dentre as onze letras desse achado onomástico, nove (isto é, todas excepto a consoante final dos dois temas) reproduzem as de CAEIRO. Ademais, a primeira sílaba desse sobrenome e o fim do nome Albe/r/to Ca/eiro, se reflectem, com uma metátese, no nome do discípulo Ri/car/do. ...(pg. 26)

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