É, para mim, um dos poemas capitais de Fernando Assis Pacheco (1937-1995) e que, na sua magoada ironia varonil, me lembra o fino humor femininino de Sophia no seu poema "As pessoas sensíveis não são capazes/ De matar galinhas/ Porém são capazes/ De comer galinhas..." Neste caso, e excepcionalmente, os poemas têm registo de género. E como do Prosimetron veio um desafio, via MR, e por causa do Oistrakh, aqui vai o poema de Assis Pacheco, intitulado:
Não Posso
Nasce
em torpes corações a Primavera.
Tempo, astros, alegria nunca escolhem
sobre quem derramar-se.
Para exemplo deste imponderável
Goering amava os animais
e vem a Lisboa David Oistrakh
tocar para estudantes e rameiras.
Quando colho uma flor, sei
que ela mudará as minhas noites.
Mas é também conhecido
que a certas horas os carcereiros
despem a farda
e vão às Mercês e à Rinchoa
comprar cestos à beira da estrada
com morangos ou cravos. Não posso
com tanta ironia.
Não me lembrava deste poema. Embora recordasse o «Não posso / com tanta ironia». :)
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