André Malraux nasceu em França, precisamente, há 110 anos (3 de Novembro de 1901). Da sua obra, escolhemos um pequeno excerto de "La Tentation de l'Occident", traduzido por António Ramos Rosa, para a Livros do Brasil (Colecção Miniatura, nº 159). O livro é constituído por uma troca epistolar entre A. D., francês, de 25 anos, e Ling-W.-Y., chinês de 23. É de uma carta deste último que se transcreve uma pequena parte. Que segue:
"...Nada poderia melhor que os nossos sonhos esclarecer a diferença que separa as nossas sensibilidades. Se sonhamos é apenas para pedir aos nossos sonhos a sabedoria que nos recusa a vida. A sabedoria, e não a glória. «O movimento no sonho», escrevia o senhor. Eu respondo-lhe: a calma no sonho.
Porque o Chinês que sonha torna-se um sábio. O seu sonho não é povoado de imagens. Ele não vê nele nem velhas conquistas, nem a glória, nem a potência, mas a possibilidade de apreciar tudo com perfeição, de não se prender ao efémero, e, se a sua alma é um pouco vulgar, alguma consideração.
Nada o dispõe à acção. Mesmo em sonho... Ele é. Sentir-se respeitado não é imaginar que entra numa sala em que as cabeças se inclinam. É saber que às coisas que lhe são particulares se acrescenta o respeito que ele inspira. Por muito singular que tal possa parecer-vos, o Chinês imagina, se posso exprimir-me assim, sem imagens. É isso que o faz ater-se à qualidade e não à personagem. É por isso que a ideia do mundo, esse mundo que ele não poderia imaginar, corresponde para ele a uma realidade. ...(pgs. 70/71).
Creio que houve um tempo, na cultura ocidental, em que se procurava a sabedoria. Depois veio a obsessão com o «progresso» e estragou tudo...
ResponderEliminarEstou de acordo, c. a.. E balizaria essa preocupação entre os finais do séc. XIX e os anos 80 do séc. XX. Por aí começa o fim das ideologias, a decadência das Humanidades, etc..
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