segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um súbito silêncio


As orquídeas, tão pejadas já, tardam a florir, abrindo as pequenas cápsulas verdes. Dou por elas, secretas, ao passar para a varanda a leste e quando sinto um friozinho ligeiro, vindo de fora. Quase não há pássaros no ar, apenas 4 ou 5 andorinhas, inquietas no seu voo, procurando talvez o lugar ideal para os seus ninhos. Volteiam marcando o declínio da luz, ao fim da tarde.

A inocente criatura, em baixo e no campo improvisado, está sozinha. Chuta, continuadamente, para a baliza desguarnecida e, para se acompanhar, nesta solidão do final do dia outrabandista, sopra, com timidez e brandamente, a vuvuzela vermelha, quando a bola amarela entra nas redes vazias. Por cima, nuvens esparsas, de uma cor inesperada que não me lembro de ver - castanhas. Penso, por momentos, em Fukushima. Porque também há nuvens de um cinzento que parece fumo.

O "aladino", às 20,25, anuncia-me a noite, formal e matemático. Ninguém veio chamar a inocente criatura para ir jantar, mas ele também não parece preocupado. Continua a chutar e a tocar, parcimoniosamente, a vuvuzela vermelha. Em volta há um silêncio absoluto e inquietante, neste princípio de noite primaveril. Como se expectante ou antecedendo um acontecimento decisivo. Não há pessoas na rua, nem corpos visíveis nas janelas e varandas das casas, ao longe. As nuvens cruzam-se entre 2 ventos: de norte para sul e do mar para leste. De repente faz-se-me luz. O Benfica-Porto é o responsável por este enorme e súbito silêncio. A inocente criatura, nos seus pueris 6 ou 7 anos, se calhar, foi expulsa de casa, ainda sem jantar, pelos extremosos pais que quereriam assistir ao "ofício divino" na TV, e em sossego. Abençoado futebol da gente simples!, que instaura o silêncio nas ruas e a expectativa nas almas.

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