"Sempre acreditei que o desejo de ser constante comigo mesmo implicava muitas vezes o risco da insinceridade" escreveu André Gide (1869-1951) em Retour de l'U.R.S.S. (1936). Lembro-me, em simultâneo, de uma frase de António Lopes Cardoso (1933-2000), deputado que foi, também, ministro da Agricultura. Dizia ele que "um político que é coerente, repete-se". Estas duas frases, ambas com implicações políticas, revelam uma preocupação de autenticidade, uma ética e noção de princípios que, hoje em dia, importam a poucos. Gide, ao publicar o livro referido acima, foi duramente criticado por ter, no fundo e apenas, uma visão desassombrada e algo crítica sobre a U.R.S.S. de Estaline, onde tinha estado em visita, pouco antes. É sempre perigoso ter razão antes do tempo. Lopes Cardoso acabou por abandonar o PS e é, hoje, um homem quase esquecido. Era um homem que fazia política por convicções. Mas a memória é curta em relação à coerência e privilegia mais tudo aquilo que é politicamente correcto, e ordenado pelos cânones dominantes. O tempo acabou por dar razão a André Gide mas, entretanto, o escritor francês, que teve o Nobel da Literatura em 1947, já tinha morrido.
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