sexta-feira, 8 de abril de 2011

Favoritos L : D. Pedro I



Chamaram-lhe o cru ou o justiceiro, consoante a perspectiva. D. Pedro I, que nasceu a 8 de Abril de 1320, foi um rei controverso. Partilha com D. Sebastião a popularidade mítica das lendas. No caso de D. Pedro, a do amor (por Inês de Castro) para além da morte, que inspirou vários escritores, desde António Ferreira ("A Castro") a Henry de Montherlant ("La Reine Morte"). Mas o rei, que deixou os cofres da Nação a abarrotar - e que seu filho, D. Fernando, se apressou a desbaratar em guerras inúteis e dispendiosas -, D. Pedro I, dizia eu, era também um homem inquieto. Parece que era dado a fúrias repentinas (aliás, na boa tradição dos nativos astrológicos de Áries ou Carneiro) e atreito a frequentes insónias. Nessas alturas, vinha para a rua, alta noite ou de madrugada, dançar, comer e beber com o Povo, à luz das tochas. Mas demos a palavra a Fernão Lopes que, assim, lhe esboça os contornos de retrato:


"Este rei Dom Pedro era muito gago. E foi sempre grande caçador e monteiro, sendo infante e depois que foi rei, trazendo grande casa de caçadores e moços de monte e de aves e cães de todas maneiras que para tais jogos eram pertencentes. Ele era muito viandeiro, sem ser comedor mais que outro homem, que suas salas eram de praça em todos os lugares por onde andava, fartas de vianda em grande abastança. (...) E el-rei Dom Pedro era em dar mui ledo, tanto que muitas vezes dizia que lhe afrouxassem a cinta - que então usavam não muito apertada -, por que se lhe alargasse o corpo por mais espaçadamente poder dar, dizendo que o dia que o rei não dava, não devia ser havido por rei. Era ainda de bom desembargo aos que lhe requeriam bem e mercê; e tal ordenança tinha nisto que nenhum era detido em sua casa por cousa que lhe requeresse. ..."

2 comentários:

  1. A primeira vez que li as crónicas de Fernão Lopes tinha dez anos e frequentava o 1.º ano do ciclo preparatório. Encantaram-me logo e continuo nesse estado. Esta, então, é absolutamente notável...

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  2. A frescura da descoberta da língua, em Fernão Lopes, é quase sempre vivíssima e notável.

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