sexta-feira, 10 de maio de 2019

Gurus


Trouxe ontem, quase em jeito de bónus quanto a preço, do meu alfarrabista de referência, juntamente com Ulisses, de Joyce, um número duplo (69/70) de O tempo e o modo dedicado a António Sérgio (1883-1969), com ampla colaboração de destacados intelectuais portugueses da altura (Março/Abril de 1969). O número é o primeiro dirigido por Bénard da Costa, que sucedeu a António Alçada Baptista, e reflecte já algumas vozes dissonantes (Arnaldo de Matos, por exemplo), no conteúdo, que, com o tempo, viriam a provocar uma deriva ideológica e resultar, mais tarde, na desaparição, pura e simples, desta revista, que foi de referência na vida intelectual portuguesa.
A minha geração, no geral creio, foi já pouco influenciada pelo método de pensar de António Sérgio, que foi decisivo para as duas gerações anteriores. Lembro-me bem que Mário Castrim, sempre que pronunciava o nome do ensaísta, o fazia com excessivo respeito e reverência. Mas eu li poucos livros do pensador português. Este número, que comprei, de O tempo e modo, reflecte à saciedade a diversidade ideológica dos seguidores deste maître à penser português. Do sucinto depoimento de Jorge de Sena, ao embrulhado artigo de Vasco Pulido Valente, há de tudo, quanto a qualidade. Do barroquismo erudito de Joel Serrão até à meridiana clareza do texto de Oliveira Marques.
Deste último colho o conselho, e hei-de ler, sem falta, a Introdução Geográfica à História de Portugal, que o historiador recomenda, elogiosamente.

5 comentários:

  1. Cá está a referência a Alçada Baptista, entre outros.
    Pouco li dele.
    A revista O tempo e o modo ainda hoje é procurada.
    Bom dia, APS!

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    1. As palavras de Alçada Baptista parecem conter uma certa amargura, no seu editorial de despedida... Creio que foi no tempo em que ele se começou a aproximar de Marcelo Caetano e os novos (Bénard da Costa, por exemplo) já iam noutros sentidos.
      Os meus votos de um próximo e bom fim-de-semana.

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  2. Ainda ontem estive com este exemplar na mão. O primeiro a ser dirigido por Bénard da Costa e dedicado a Sérgio que tinha morrido em janeiro desse ano.
    Li Introdução geográfica à História de Portugal e pouco depois Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico de Orlando Ribeiro - dois livros importantes para nos conhecermos.
    Bom sábado!

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  3. A ideia que tenho é que lemos o texto de Sérgio numa aula de Português sobre Herculano. O livro até estava proibido, mas a professora de Português (Letícia Clemente) era a única fora da caixa, que nos tentava abrir a cabeça.
    Renovados votos de bom sábado.

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    1. De Orlando Ribeiro, graças a conselhos de amigos meus de História, li grande parte da obra, com gosto e proveito. Mas de Sérgio, conheço pouco, infelizmente.
      Bom dia.

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